Faleceu, na última sexta-feira, dia 21 de Janeiro, no Hospital Distrital de Anadia, vítima de pneumonia, um dos párocos mais carismáticos da região da Bairrada. Referimo-nos ao ex-pároco da freguesia da Moita - Padre Rei, como era por todos conhecido. Tinha 77 anos e presentemente, devido a debilidade do seu estado de saúde, residia no Centro de Dia/Lar da Moita que fundou na década de 80. O seu funeral, que se realizou no dia seguinte (sábado), revestiu-se de grande manifestação de pesar. Para além de muitos populares, D.António Marcelino, bispo de Aveiro, presidiu às cerimónias fúnebres. A acompanhar o padre Rei à sua última morada, no cemitério paroquial da Moita, estiveram muitos familiares, amigos e colegas das mais diversas paróquias da região. Figura emblemática: um exemplo de vida Natural da freguesia de Bustos, no concelho vizinho de Oliveira do Bairro, o padre Rei - de nome completo Alfredo Simões Rei - foi nomeado pároco da freguesia da Moita no início da década de 50 (1952). Bom aluno, dotado de imaginação fértil e de apurado senso prático foi sempre o servo fiel do Senhor. Foi-lhe confiada uma paróquia (Moita) que, se não de todo descristianizada na vivência social, estava, contudo, bastante alheada das práticas eclesiais. Enchia-se o velho templo na missa de Ano Novo e estava cumprida a obrigação dominical para a grande maioria das pessoas, ao longo de todo o ano. Apesar disso, não desanimou, nem vacilou sequer. Não era homem para isso. Arregaçou as mangas e deitou mãos à obra. A primeira tarefa foi a congregação do rebanho do Senhor e conseguiu-o. Seguiu-se a obra social. E, a verdade é que, graças a ele a obra surgiu, gigantesca, na sua paróquia, tão carenciada de vivência cristã e de justiça social. Graças ao seu empenho e dedicação e amor ao próximo conseguiu, ao longo dos anos, congregar fiéis, cativar indiferentes, abanar comodismos, vencer hostilidades e conquistar a confiança e a generosidade dos paroquianos em prol de uma grandiosa obra sócio-religiosa que, até aos dias de hoje, continua a ser a única resposta social para muitas crianças e idosos da freguesia. Mas na área social, a sua acção, que é igualável na região apenas à obra do bondoso Frei Gil, começou pela construção de meia dúzia de casas para famílias carenciadas em terreno baldio do Alto do Poço, com a colaboração da Câmara Municipal, de algumas firmas moitenses e dos paroquianos mais abastados e sobretudo com a generosidade de muito mais gente. Seguiu-se o restauro da Igreja Matriz, em favor do qual foi realizado, no Verão de 1953, um cortejo de oferendas memorável e que permitiu levar a bom porto a recuperação e restauro do templo. Mas, como a justiça social era a sua maior preocupação conseguiu construir mais uma dezena de casas que deram outra dignidade e conforto às famílias então mais necessitadas de Ferreiros e Póvoa do Pereiro. Não restam dúvidas que ao Padre Rei se fica a dever o nascimento do Centro Social da Moita - um lar onde fossem acolhidos e confortadas, na velhice, as pessoas mais carenciadas da freguesia. A obra - Lar de Idosos (Tabor) e o Berço da Criança foram solenemente inaugurados em 1984. Hoje, as Obras Sociais da Moita, entretanto alargadas com um jardim de infantil e um amplo e polivalente salão paroquial continuam a dar cumprimento escrupuloso aos objectivos que o seu fundador lhes traçou - dar conforto, carinho e dignidade aos mais necessitados. Com o desaparecimento desta ilustre figura e exemplo de vida e amor ao próximo esperamos que o tão desejado novo equipamento social para a freguesia da Moita (há anos projectado e a aguardar comparticipação estatal) não morra também. Como “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, fazemos votos para que, dentro de pouco tempo, paróquia, população local, autarquia e poder central reúnam esforços e tornem este sonho uma realidade. In “Memórias da Moita” de António Faria, pag.15 a 24Diário de Aveiro |