O especialista português Filipe Duarte Santos avisou hoje que Portugal precisa de começar a planear medidas de adaptação às alterações climáticas, depois de um estudo que mostra que o sobreaquecimento poderá ser mais rápido que o esperado. O estudo hoje publicado em Londres aponta que o período de não retorno no aquecimento do planeta pode ser atingido mais cedo do que os 10 anos até agora previstos. O ponto de não retorno (com períodos de seca, más colheitas e falta de água) foi fixado em dois graus centígrados acima da temperatura média do planeta antes da revolução industrial, no século XVIII, segundo o jornal The Independent. "Os resultados parecem-me realistas apesar de preocupantes. E quanto menos acções se fizerem para não ultrapassar esse aumento de dois graus mais difícil vai ser. Portugal, como outros países, deve começar a planear já medidas de adaptação aos efeitos das alterações climáticas", defendeu em declarações à Agência Lusa Filipe Duarte Santos. Para o especialista, as autoridades portuguesas não devem só estar atentas à redução das emissões poluentes, embora isto também seja necessário para inverter a tendência de sobreaquecimento e cumprir o Protocolo de Quioto. "Mas há medidas urgentes de adaptação que têm de começar a ser tomadas. Essas medidas devem começar a ser planeadas para o litoral, onde a erosão será agravada pelas alterações do clima, para a agricultura, florestas, saúde humana e recursos hídricos", sustentou o coordenador do programa SIAM - que estuda as alterações climáticas em Portugal. Na agricultura, por exemplo, é preciso começar a informar as populações sobre "os perigos que aí vêm" e como tentar contorná-los. Elaborado pelo Instituto de Pesquisa sobre Políticas Públicas de Londres, pelo Centro para o Progresso Norte-Americano e pelo Instituto Austrália, o documento apela aos líderes do G8 (oito países mais industrializados) que alcancem um acordo para que, em 10 anos, um quarto da electricidade seja produzida por fontes renováveis. Até o momento, a Terra já aqueceu 0.8 graus acima dos valores da era pré-industrial, quando ainda não havia emissões de gases com efeito de estufa. Para evitar uma alteração climática catastrófica, a Rede de Acção Climática (RAC) tinha avisado em Dezembro que o aquecimento do planeta não poderia aumentar mais de dois graus em relação à era pré- industrial. A RAC, federação de ambientalistas europeus, considera ainda que a União Europeia deve reduzir dentro de 50 anos em 80 por cento as emissões de gases poluentes para evitar um aquecimento global de elevado risco. Se nada fosse feito, em 2100 o planeta iria estar 5,8 graus mais quente, o que seria "catastróficos", de acordo com dados apresentados pela RAC, a partir do terceiro relatório de avaliação do painel intergovernamental para as alterações climáticas. Com dois graus acima do nível pré-industrial o risco de malária aumenta, podendo afectar mais 200 milhões de pessoas. Também o problema de falta de água pode ser agravado: com dois graus a mais a falta de água afectará mil milhões de pessoas e com 2,5 graus a mais as pessoas afectadas pela escassez passam a ser 3.250 milhões.Diário de Aveiro |