Uma nova espécie de bactéria, descrita recentemente por investigadores do Departamento de Biologia (DBio) da Universidade de Aveiro (UA) na revista científica International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, recebeu o nome Saccharospirillum correiae. O epíteto específico correiae foi atribuído em homenagem a António Correia, microbiólogo e professor catedrático naquela unidade orgânica da UA, falecido em 2016. A bactéria é uma, entre muitas outras novas espécies, que vive no interior de uma planta comum na Ria de Aveiro, mais conhecida por gramata-branca.
A homenagem pretende relembrar e realçar o contributo dado por António Correia no âmbito da investigação e ensino na área da microbiologia em Portugal. É também um tributo sentido do grupo de investigação que o académico coordenou, o MicroLab.
O género Saccharospirillum é relativamente recente, tendo sido descrito em 2003, e, até à data, conheciam-se apenas três espécies pertencentes a este género, todas elas encontradas em ambientes salinos.
Esta descoberta, da responsabilidade de Cátia Fidalgo, Isabel Henriques e Artur Alves, investigadores do DBio e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), ocorreu no âmbito de um projeto de investigação em colaboração com as universidades de Coimbra e Salamanca. O projeto visava dois objetivos. Um deles consiste em avaliar a diversidade das comunidades bacterianas endofíticas, ou seja, que vivem no interior de uma planta, neste caso uma planta halófita, que tolera certo grau de salinidade, e que é comum na Ria de Aveiro. Esta planta tem a designação científica de Halimione portulacoides e o nome comum gramata-branca, ocorrendo em terrenos salinos e encharcados do litoral, como sapais e margens das salinas. O outro objetivo do estudo é conhecer o potencial efeito da contaminação ambiental por metais nessas mesmas comunidades.
Em simultâneo, está em fase de conclusão a tese de doutoramento de Cátia Fidalgo que estudou as comunidades microbianas na gramata-branca.
Estes trabalhos, nomeadamente, o estudo das comunidades microbianas, das relações que se estabelecem entre as comunidades microbianas e a planta e qual o papel daquelas na tolerância da planta aos metais, são contributos essenciais para perceber, no futuro, qual o potencial da gramata-branca na descontaminação de sedimentos com elevadas concentrações de metais.
Os resultados deste projeto revelaram que a halófita H. portulacoides alberga uma imensa diversidade bacteriana, muita da qual desconhecida, representando um “hotspot” de biodiversidade microbiana ainda pouco explorado, salienta a equipa de investigadores. A investigação, explica o investigador Artur Alves, foi impulsionada pela curiosidade acerca da relação entre as plantas halófitas e as comunidades bacterianas que nelas vivem, procurando algum esclarecimento sobre o papel das bactérias na tolerância que a planta demonstra à contaminação por metais. Partiu de um conjunto grande de potenciais novas espécies e acabou por se centrar num grupo mais restrito incluindo esta, explica Artur Alves. A pesquisa com estas caraterísticas, neste tipo de plantas, não é comum, daí a novidade dos resultados que têm sido alcançados, salienta o investigador.
Além desta nova espécie, no decurso deste trabalho de investigação, foram já descritas sete outras espécies novas para a ciência, e várias serão ainda descritas no futuro: Microbacterium endophyticum e Microbacterium halimionae, ambas descritas em 2014; Microbacterium proteolyticum, descrita em 2015, e Microbacterium diaminobutyricum, descrita em 2016; Altererythrobacter endophyticus, Altererythrobacter halimionae e Zunongwangia endophytica, descritas já em 2017.
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