INVESTIGADORES EXPLICAM "EFEITO CHAMINÉ"

O "efeito chaminé" nos incêndios florestais, causa de várias mortes em Portugal no Verão de 2003, já foi explicado este ano a 200 bombeiros em cursos de formação, revelou hoje o investigador Xavier Viegas.

Trata-se do "comportamento eruptivo" do fogo, que, ao propagar -se em zonas montanhosas, "ele próprio causa vento" e em condições de elevada temperatura e baixa humidade, ganha uma "rápida aceleração", aumentando o efeito devastador das chamas.

As conclusões de um estudo sobre o "efeito chaminé", realizado pela Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) com apoio financeiro da União Europeia, vão ser apresentadas hoje à tarde em Coimbra.

Um programa que está a decorrer na Lousã, desde Outubro, na sequência de um protocolo de colaboração entre a ADAI e a Escola Nacional de Bombeiros, permitiu já a formação de duas centenas de bombeiros nesta área, destacando-se a incorporação dos novos conhecimentos científicos nos cursos.

"Os nossos estudos permitiram explicar o comportamento do fogo nestas situações, sobretudo em terrenos com orografias complexas", declarou à Agência Lusa Domingos Xavier Viegas, presidente da ADAI e responsável do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra.

Nos últimos três anos, a ADAI liderou o projecto de investigação sobre incêndios florestais SPREAD, que envolveu cientistas de 25 instituições de 15 países europeus e de uma entidade canadiana, cuja reunião final decorre hoje num hotel de Coimbra.

SPREAD é designação abreviada do projecto Forest Fire Spread Prevention and Mitigation (Prevenção, Mitigação e Comportamento de Incêndios Florestais).

O "efeito chaminé" foi estudado no Laboratório sobre Incêndios Florestai, que a ADAI possui no Centro de Meios Aéreos da Lousã, em ensaios de campo realizados na Serra da Lousã (na Gestosa, concelho de Castanheira de Pêra) e ainda em incêndios reais.

"Destes estudos, resultaram ensinamentos importantes acerca do comportamento eruptivo do fogo, que tem originado diversos acidentes fatais", disse Xavier Viegas.

O SPREAD inclui quatro módulos principais, relativos à caracterização do risco, comportamento do fogo, efeitos ecológicos e gestão dos incêndios florestais (designadamente, prevenção, combate e minimização dos seus impactes).

"O projecto produziu diversos resultados inovadores, de valor científico e com aplicação prática imediata", refere uma nota da ADAI, indicando que os conceitos obtidos foram, entretanto, aplicados na análise de alguns dos incêndios mortais do ano passado.

Esses resultados foram ainda apresentados em reuniões científicas e com entidades operacionais nos diversos países participantes e foram objecto de diversas teses de pós-graduação e de artigos científicos.

Além da ADAI, integrou o projecto uma outra equipa portuguesa, liderada por Carlos Borrego, professor do Departamento de Ambiente da Universidade de Aveiro e antigo ministro do Ambiente.

Estas duas equipas colaboraram em especial no estudo da propagação do fogo e da dispersão do fumo causado pelos incêndios florestais, tendo em vista a sua modelização matemática.

Entretanto, na Universidade de Coimbra, um programa de investigação liderado pelo professor Rui Figueiredo, também membro da ADAI, tem permitido desenvolver "métodos inovadores" para protecção de viaturas sujeitas à aproximação do fogo.

Os resultados, segundo a ADAI, têm sido testados em ensaios de campo e são "muito encorajadores", permitindo "antever um potencial de aplicação muito interessante para esta técnica, com vista a melhorar a segurança dos bombeiros".
Diário de Aveiro



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