Lê-se pouco em Portugal. Não é novidade, e vai sendo um traço comum, característico, das novas gerações. Por outro lado, e mesmo com todas as novas tecnologias da comunicação, o livro continuará a ser sempre “o livro”, insubstituível. Todavia, ainda que o tempo falte, para quem vive a motivação do saber universal, da cultura geral, certamente que tudo o que são iniciativas como palestras, debates, conferências, apresentações de livros, colóquios, seminários,? serão oportunidades óptimas do saber coloquial, até como compensação da ausência de tempo na leitura. E quanto ao panorama das participações em iniciativas culturais, vai-se multiplicando a dificuldade em congregar para o encontro, a participação, o gosto de estar, ouvir, intervir, construir, mesmo nos meios associativos, uma mentalidade participativa aos mais diversos níveis. Numa visão primária, tudo isto pode ser refutado com a ideia de que hoje serão muito mais as iniciativas, que as pessoas estão distribuídas mediante as ocupações e interesses, que a vida profissional e social actual não deixam grande margem de tempo. Ou então, que o mundo das imagens ou o debate televisivo também serão lugar de participação na vida comunitária. Contudo, existirão causas bem mais profundas (a compreender) que se espelham num certo desinteresse pelo colectivo. Se é certo que a liberdade de presença e participação é sempre pressuposto óbvio (até à altura em que seja obrigatório o dever de votar nas eleições para se usufruir dos direitos de cidadania!), não é menos verdade que talvez seja oportuno um estudo sério (e consequente) sobre como vamos de cultura geral (?), como corresponder as propostas a um despertar contínuo das motivações positivas (?), como atrair, sem emoções fortes (passageiras), as novas gerações para uma essencial identidade cultural? Que ocorre a este nível na Europa (da Constituição)? Se a gente nova é o natural fruto da mentalidade vigente na sociedade portuguesa, então, pela lógica do silogismo, a indiferença que muito das novas gerações vive em tantos aspectos do nosso-bem-comum será sinal da indiferença, ou pelo menos desatenção, dos mais velhos. Preocupante. Mesmo dando toda a margem natural da irreverência indiferente justificada pela própria psicologia da idade adolescente-jovem, o certo é que continuamos, na generalidade, a procurar responder com formas antigas às novas questões? Agora, sendo a indiferença uma marca tipo do nosso tempo, será necessário re-focalizar o esforço, a táctica, para que consigamos algo mais. As mensagens de cultura não passam, ou, se passam, rapidamente esvoaçam! Dizem estudos que o leitor actual é muito menos crítico que o das gerações anteriores. Acrescentamos, o leitor, o espectador, o ouvinte, o (sobrevivente) homem-da-cidade! O que outrora seriam processos naturais de motivação-participação (tantas vezes, é certo, movidos pelas causas da liberdade), hoje, no nosso Portugal, encontramo-nos diante de diversas encruzilhadas em que o qualificativo “indiferença” poderá ser palavra já comum. Perguntemo-nos: Como vão e com que tempo cuidamos, na generalidade, dos laços entre as pessoas na família, na escola, no trabalho, na sociedade? O que nos unifica (na natural diversidade)? Esta questão de fundo de tantas indiferenças (humanas, sociais, culturais), em que parece que com todo o esforço nos variados quadrantes só conseguimos retardar a problemática? desafia grandemente a questão central das motivações. Que motiva hoje as pessoas? Há dias, Nuno Rogeiro dizia(-nos) que parece que falta algo que nos una, motive; todos queremos um Portugal melhor, mas depois a grande maioria fica à espera que Portugal aconteça. Lancemos o olhar pela juventude e sintamos na sua incerta realidade o desafio à nossa própria vida e proposta de uma verdadeira educação para uma vida rica de valores e referências, com uma bela profundidade humana. Se continuar o esvaziar, a falsa-liberdade como baluarte de uma cultura de entretenimento que conduz à indiferença em relação às questões (bem sérias) da vida que temos a viver? então que futuro deixaremos às crianças que hoje terão três, cinco, sete anos? É que importa não confundir os planos: Romance é romance; história é história! Nos romances, como o Código da Vinci de Dan Brown, quase tudo se poderá escrever? Aqui, preocupa o ler-se um romance com os olhos de história; ou fazer-se da vida real quase uma ilusão de que a idade idosa e a dependência de outrem nunca virá. Puro engano, auto-conhecimento por desenvolver! É a ausência do tal espírito crítico que cria desfocagens de indiferença em relação à própria vida que, por consequência, tem reflexos na des-unidade social. Talvez seja interessante uma publicação no estilo sociológico, educativo, que venha desvendar, a partir das motivações, o verdadeiro ‘código’ que da verificada indiferença promova bem mais uma cultura geral e o gosto da participação na vida comunitária? Toda a pessoa é chamada a dar o seu contributo ao bem comum, algo que a dignificará na sua pessoalidade! Alexandre Cruz* *Centro de Fé e Cultura de AveiroDiário de Aveiro |