O que se assistiu durante o mês de agosto e setembro nos apiários do Corgo foi um filme de terror, não só para as abelhas, que nem sequer saiam das colmeias, ficando à entrada para se defenderem das enormes vespas, assim como para os apicultores que, mesmo com as armadilhas para as capturarem, várias colmeias acabaram por morrer.
Este ano, devido ao facto de ter chovido até junho, os maiores estragos para a apicultura foram em agosto e setembro.
A vespa asiática é nativa da Ásia oriental e no princípio habitava em climas tropicais. Foi detetada em 2004 no continente europeu, com maior visibilidade em França. Em Portugal apareceu pela primeira vez em 2011 nos apiários de Viana do Castelo. O ano passado foi o ano em que apareceu com alguma frequência na nossa freguesia, mas os prejuízos não foram muitos, contudo este ano de 2016, nas visitas que efetuei com um familiar apicultor aos apiários, foi aterrador ver as abelhas paradas, impotentes perante esta praga com um comprimento médio de trinta milímetros. As vespas andam a voar em frente das colmeias e em voo apanham as abelhas, capturam-nas e transportam para os seus ninhos para alimentar as larvas. Os ninhos das vespas podem atingir um metro de altura.
Na internet, podemos ler que assim que acabem as abelhas, o mundo durará pouco tempo. A agricultura depende muito das abelhas para a polinização, muitos agricultores pedem aos apicultores para colocarem colmeias na proximidade dos seus pomares, pois assim conseguem maiores produções de frutos ou cereais de qualidade superior.
Relativamente às entidades que podem resolver ou pelo menos, minimizar o prejuízo, têm feito esforços no sentido de resolver este problema. As armadilhas que vendem são boas mas o seu preço não está ao alcance dos apicultores, estes por sua vez fazem as armadilhas caseiras, mas a sua eficácia é bastante menor. Pelo que observei, mesmo com as armadilhas, os enxames novos acabam por morrer e as colmeias maiores enfraquecem muito. Da mesma forma, que noutros tempos apareceram doenças novas, para as abelhas, como a loque, varroa entre outras e com algum tempo e persistência lá se foi resolvendo, aguardamos que quem decide e tem poder, olhe para este problema e auxilie os apicultores. Não é só dar apoio e incentivar jovens apicultores, no meu entender e na minha humilde opinião, de quem já anda na apicultura como passatempo há 35 anos, a ajudar familiares apicultores, julgo que este problema não é só dos apicultores, se a vespa se tomar praga, ela vai começar a aparecer junto das casas, e aí já não podemos “assobiar para o lado”, como já fizemos, pensando baixinho, isso é um problema lá do Minho, eles que resolvam.
Nota: com este artigo pretende-se por um lado solicitar a quem está no ministério da agricultura, mais apoio para esta atividade, que muitas das vezes é exercida como forma de complementar uma agricultura de subsistência, onde só quem a pratica sabe que os resultados são incertos. Também serve este artigo para que as pessoas que andam mais pela floresta, agricultores, madeireiros, caçadores, apicultores informem as autoridades da localização de ninhos da vespa asiática, para que assim se minimize o problema. Sabendo do poder da informação e da qualidade que o Jornal da Bairrada tem na divulgação, pretende-se alertar as pessoas para que estejam informadas perante esta invasão que poderá num futuro próximo ser um problema de segurança, e não criar pânico.
Já agora que estou com este tema aproveito para alertar os jovens que entusiasticamente se interessam por esta área, que para além de ler muita “poesia que os livros de apicultura trazem”, se informem com apicultores da sua região e pratiquem primeiro com algumas colmeias. Mesmo eu que já ando neste passatempo há décadas, neste ano a enxameação (as abelhas abandonam a colmeia…) foi de tal ordem que afetou muita a produção de mel.
Aproveito também para lançar publicamente a seguinte questão que já fiz a alguns caçadores que queimam o mato nos eucaliptais deixando só terra e pedras à vista: Que tipo de caçador és tu que andas a fazer a monda química e te queixas da falta de coelhos e perdizes?
António Leonel do Paço Araújo
Diário de Aveiro |