A nação americana está em vésperas de “dar à luz”. Que uma eleição presidencial, é uma espécie de parto, passe a metáfora. É uma espécie de Natal político, que se repete quadrienalmente, e o povo espera, ansiosamente, para ver o que de novo vai surgir. Mas nem todos anseiam por mudança. Há os que desejam “o mesmo e mais forte”. Querem manter o que já conhecem, o que está, e receiam o novo, o que há-de vir. Este processo democrático de escolha dos governantes, apesar de imperfeito, é o que de melhor os povos até hoje inventaram. As sociedades humanas, são órgãos complicados, complexos, difíceis de entender. Mas são corpos vivos, em constante evolução, e para que funcionem com relativa eficiência, os seus líderes têm de ser renovados periodicamente. O processo é moroso, por vezes ineficiente, susceptível de corrupção, contudo, é o melhor que se conseguiu arranjar até agora. A ditadura, o governo da força, está mais que provado, não resolve o problema da transição pacífica do poder neste século XX1 em que vivemos. Quando as sociedades se gastam, envelhecem ou se corrompem, às vezes, um governo forte, aparece como única solução. Mas uma solução temporária. O pior é que as ditaduras, agarram-se ao poder e não largam com facilidade. O culto da personalidade, aliado ao culto religioso e nacionalistico, resultou nas ditaduras fascistas que vigoraram por décadas em Portugal, Espanha, Itália e Alemanha. O fascismo é uma doutrina arrogante, inimiga da liberdade individual, embrulhada em fé, nacionalismo e o culto da personalidade e do passado. Santifica-se o passado, como se o espírito colectivo estratificasse, e deixasse de acreditar no futuro. No mundo, pode parar tudo, mas a evolução não pára. E quando a evolução natural e pacífica, por meio do voto é retardada pela força, a perseguição e a tortura, é natural e lógico esperar as explosões e solavancos sociais que têm marcado o fim das ditaduras. É por isso que este processo do voto, espécie de misteriosa lotaria ou roda da sorte, vai resolvendo o problema da transição do poder sem violência, embora nesta América democrática, o processo esteja atingindo uma fase crítica, em que os poderes do dinheiro e da religião, estão ameaçando a base democrática tradicional. Graças aos constantes descontos nos impostos aos ricos e poderosos, a riqueza está-se acumulando rapidamente apenas num dos pratos da balança, e extinguindo a chamada Classe Média, que tem sido o garante da estabilidade, da justiça social, politica, económica e humana. O fanatismo da direita radical, dominada pelos pastores milionários da rádio e da televisão, parece pretender emular o fanatismo dos extremistas mão metanos, responsáveis pela “cruzada” em que este país está envolvido. Seja como for, esta é a última crónica antes da eleição da próxima terça feira. Quando voltarmos a falar, já todos conheceremos o veredicto da eleição e da vontade do povo. A luta eleitoral entre John Kerry e George Bush, está a dar os últimos vagidos. O que é importante, agora, é que todos os cidadãos conscientes das suas responsabilidades cívicas, não deixem de ir às urnas, expressar a sua vontade e o seu desejo de mudança ou de status quo. Porque se há os que desejam mudança, há outros tantos que querem a continuação do actual governo. E como a vida é, realmente, um jogo, uma lotaria, resta-se nos aguardar o resultado da expressão secreta da nossa vontade, como cidadãos da terra que nos recebeu, e nos concedeu a liberdade e o privilégio de participar neste importante acto cívico da democracia. Manuel Calado* Jornalista na AméricaDiário de Aveiro |