MARINHA VAI INVESTIGAR HIPÓTESE DE ABALROAMENTO

A Marinha revelou hoje que vai investigar a eventualidade de o naufrágio do pesqueiro "Salgueirinha", há uma semana, ter sido provocado por abalroamento, uma hipótese levantada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte (STPN).

Em declarações à Agência Lusa, o porta-voz da Marinha, comandante Gouveia e Melo, disse que investigações desse tipo são comuns em caso de naufrágio e "muito mais num caso como este, com seis vítimas mortais".

Segundo o dirigente do STPN, António Macedo, a possibilidade de abalroamento da embarcação foi levantada em conversas via rádio entre barcos que estavam na mesma zona do "Salgueirinha", nos canais de comunicação 16 e 11.

"Embora consciente das dificuldades para apurar e esclarecer os factos, exigimos que sejam tomadas todas as medidas no sentido de dissipar todas as dúvidas existentes", frisou o sindicalista.

António Macedo pediu também um debate "sério e urgente" sobre o socorro marítimo, para que em situações idênticas se possa afirmar que "tudo se fez para um desfecho diferente".

O dirigente sindical, que sublinhou o facto de o Instituto de Socorros a Náufragos ter um quadro de 130 pessoas e apenas 75 profissionais ao serviço, questionou o porquê do salva-vidas só ter saído para o mar cinco horas após o conhecimento do naufrágio.

António Macedo lamentou, por outro lado, que as rádios-pesca, instaladas nas lotas e que, segundo disse, "poderiam constituir uma ajuda excelente", estejam encerradas à noite.

Confrontado com estas afirmações, o porta-voz da Marinha negou a tardia intervenção dos meios de socorro, implícita nas afirmações do sindicalista.

De acordo com o comandante Gouveia e Melo, a Marinha agiu de forma célere, tendo accionado os meios de detecção mesmo antes de ter recebido qualquer alerta formal.

"Ao detectar uma comunicação VHF sobre o paradeiro do Salgueirinha, antes do alerta, a Marinha entrou imediatamente em acção, questionando os portos de Aveiro e Leixões sobre a eventual entrada da embarcação", frisou o oficial.

"Também começámos a chamar todas as embarcações da zona, mobilizámos o sistema de vigilância nocturna da GNR de S. Jacinto, Aveiro, e accionámos o Centro de Coordenação de Buscas", contou.

Foi igualmente accionada a consulta à "caixa azul" da embarcação (equivalente à "caixa negra" dos aviões), mas a posição indicada era a de 12 horas antes, quando a Salgueirinha se encontrava ainda aportada.

Gouveia e Melo explicou que, em período nocturno, os radares não detectam botes nem balsas salva-vidas, sobretudo quando o mar está agitado, como era o caso.

Segundo a fonte seria também ineficaz o recurso a holofotes ou helicópteros, dado que não havia uma indicação sobre a localização aproximada do pesqueiro.

Os meios ineficazes nas buscas em período nocturno "saíram aos primeiros alvores", frisou, explicando que até ao momento foi localizada a embarcação e resgataram-se os corpos de três dos seis pescadores naufragados.

Gouveia e Melo admitiu que os três corpos por resgatar se encontrem dentro da embarcação, afundada a duas milhas da costa, entre Aveiro e Torreira, a 18 metros de profundidade.

Mergulhadores da Marinha aguardam agora a melhoria das condições de mar para entrarem no "Salgueirinha" e confirmarem se os corpos dos tripulantes que não deram à costa estão ou não no interior da embarcação.

O porta-voz da Armada disse que dois mergulhadores "correram risco de vida" ao tentarem entrar na embarcação afundada com o mar muito agitado e visibilidade zero.

O Salgueirinha, tripulado por seis pescadores das Caxinas, Vila do Conde, naufragou na noite de 18 para 19 de Outubro.
Diário de Aveiro



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