FALTA DE APOIO FAMILIAR É CRÍTICA PARA JOVENS

O psiquiatra Adriano Vaz Serra considera que os jovens podem atingir momentos críticos de sobrevivência quando a família é incapaz de lhes dar apoio emocional. Na conferência que proferiu nas Jornadas sobre Comportamentos Suicidários, que decorrem no Luso, sobre o tipo de famílias que gera disfunções nos filhos, o responsável pela clínica psiquiátrica dos Hospitais da Universidade de Coimbra referiu a importância da comunicação no seio familiar. "Deve ser clara e entendida sem distorções", realçando o papel da família como protecção para a doença, sabendo "desdramatizar, porque todos os problemas têm soluções", salientou Elogiou por isso o modelo da família flexível e criadora de adaptação, "com regras nem muito rígidas nem demasiado lassas", sendo importante que para toda a punição física ou verbal seja prestado esclarecimento. Vaz Serra alertou também para a tendência dos pais darem mais atenção à criança quando esta começa a ter um comportamento-problema, acabando muitas vezes por não ter a atenção devida quando "se portam bem". A influência dos conflitos familiares e as atitudes dos progenitores no desenvolvimento da personalidade foi outro dos temas aflorados na sua comunicação, exemplificando com casos em que uma mãe deprimida pode tornar-se factor de desestabilização das afirmações emocionais da criança, que se reflecte mais tarde na dificuldade em lidar com os adultos. Outro exemplo que deu foi o da transposição para o filho de um modelo de vida que o progenitor não conseguiu realizar e que, se não se identificar com ele, o pode levar a uma grande insatisfação pessoal e a ser motivo de amargura. A família, defendeu Vaz Serra, tem um papel crucial para ajudar a reduzir a incerteza e a determinar os papéis pessoais, tendo o seu modo de funcionamento repercussões no modo como o indivíduo vai lidar com os seus problemas, mas as famílias disfuncionais também podem torná-lo vulnerável. "No caso de conflitos familiares, as crianças ficam mais sensíveis, aumentando as reacções negativas e um ambiente conflituoso prejudica a criança no seu relacionamento com o exterior", observou. As Jornadas sobre Comportamentos Suicidários prosseguem até sábado, com comunicações sobre "A depressão do idoso", por João Barreto, "Suicídio assistido e eutanásia", por Pereira de Almeida, "Picasso: melancolia e desespero", por Fernando Pernes, e "Criança de risco", por Jeni Canha, além de várias comunicações livres. Completam o programa mesas-redondas dedicadas aos temas "A escola e as toxicodependências", "Tratamento psicofarmacológico da ideação suicida", "A depressão na infância", "Doença bipolar" e "Música e suicídio na adolescência". As jornadas são organizadas conjuntamente pela consulta de prevenção do suicídio e pela clínica psiquiátrica dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Diário de Aveiro


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