POR DÍVIDA COM 17 ANOS

Embora tenha durado apenas três, o objectivo de José Salvado Moreira, residente em Bobadela, concelho de Loures, foi amplamente alcançado, atraindo a atenção de vários órgãos de comunicação social que acabaram por fazer eco do drama que vive, vai para 18 anos.
Na última quarta-feira, este septuagenário, de 76 anos, “assentou arraiais” em frente à casa de um indivíduo, no lugar do Outeiro de Baixo (freguesia de S.Lourenço do Bairro-Anadia), que alegadamente lhe deve uma soma considerável de dinheiro. Uma dívida com 17 anos que agora o levou, em desespero de causa, a tomar esta atitude mais drástica na tentativa de reaver o que é seu.
Só interrompeu a greve de fome porque alegadamente foi alvo de uma agressão que o levou aos Hospitais de Anadia e Águeda, mas também a apresentar queixa na GNR de Anadia.
O regresso à luta contra o que diz ser “uma pouca vergonha”, está marcada para a próxima semana, para a frente do Tribunal de Anadia.

“São os amigos que me vão valendo”

José Moreira revelou ao nosso jornal que terá, alegadamente, emprestado, há 17 anos, época em que era emigrante nos EUA, cerca de 45 mil euros (cerca de 9 mil contos) a este empresário anadiense (também emigrado naquele país) que nunca mais viria a saldar a dívida, pelo menos até há data.
O valor em dívida, acrescido à taxa de juros de 10%, atinge presentemente cerca de 100 mil euros (20 mil contos).
O septuagenário, ao nosso jornal, admitiu estar disposto “a ir até às últimas consequências”, ou seja “estou preparado para sair daqui nem que seja num caixão”, o que acabou por não acontecer, já que a greve de fome que se dispôs a fazer durou apenas três dia. Motivo? Foi vítima de uma agressão, perpetrada ao início da noite de quinta-feira, alegadamente por um familiar do devedor.
Segundo fonte policial, o homem que acompanhava o septuagenário também terá sido agredido, tendo os dois apresentado queixa, ao outro dia de manhã, no posto da GNR de Anadia.
Segundo apurámos, o grevista tinha ido a casa da outra vítima buscar um cobertor para pernoitar, e quando estavam de regresso, ao local escolhido para a greve, foram agredidos a pontapé.
Não tendo nada a perder - “estou na miséria, não tenho filhos nem mulher (é viúvo há 9 anos) e sobrevivo da caridade dos amigos” - José Moreira revelou apenas receber uma pequena pensão de “duzentos e poucos euros” que não dão, sequer, para a alimentação. “São os amigos que me vão valendo”, acrescentou, lamentando ter trabalhado toda uma vida para “acabar na mais absoluta miséria”.

“Já cá vim mais de 20 vezes”

José Moreira recorda que a dívida terá sido contraída em 1988, em Newark – EUA, numa altura em que se encontrava radicado naquele país. “Foi um grande amigo meu que me apresentou o Sr. Batista. Uma semana depois, estávamos no Banco a levantar 50,466 dólares, mas, por apenas 15 dias”.
“Levantei todas as economias que tinha amealhado ao longo da minha vida, fruto do suor do meu trabalho”, lamentou. Embora o empréstimo tenha, na altura, ficado registado na Conservatória do Cartório Notarial de Newark, a verdade é que a dívida não foi paga, tendo o caso seguido os trâmites legais, ou seja, para o Tribunal.
O processo, como tantos outros, arrastou-se no Tribunal tendo o empresário confessado ter contraído a dívida “comprometendo-se pagar os 50,466 dólares, acrescidos a uma taxa de juro de 10 por cento” o que, em 2002, já somava mais de 100 mil dólares, dos quais 50 mil eram referentes a juros.
A sentença do Tribunal condenou o réu, António Batista, a “restabelecer ao autor da queixa a quantia em causa” que continua por pagar.
“Não imaginam a fome que tenho passado ao longo destes anos. Foram amigos que me emprestaram dinheiro para poder estar aqui”.
Admitindo ser quase impossível contactar o devedor, “já cá vim mais de 20 vezes depois do julgamento, ele está escondido em casa e manda dizer que não está”, diz ser uma pessoa revoltada e desacreditada da Justiça portuguesa que “não pune este tipo de gente”.
A JB disse ainda estar “farto da Justiça na qual já não acredito”, acrescentando também que “temos a pior justiça que existe na Europa. O meu caso é a prova disso. Não se compreende que se demore 17 anos a pagar uma dívida”, acrescentou num tom bastante emocionado.
JB tentou contactar com António Batista, que actualmente possui um mini-mercado na localidade, mas sem sucesso.

catarina cerca (catarina@jb.pt)


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