ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE OLIVEIRA DO BAIRRO COM ABRIL |
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cinco anos de interregno, a Assembleia Municipal de Oliveira do Bairro voltou a comemorar a revolução de Abril, com uma sessão solene, quatro discursos e dois poemas de Manuel Alegre, mas, sobretudo, com uma homenagem dos três ex-presidentes da Assembleia, com o descerramento das suas fotografias.
“HOMENAGEM À DEMOCRACIA”
As comemorações começaram pelo hino nacional, tocado pela banda da Mamarrosa, e o hasteamento das bandeiras de Portugal, do Município e da União Europeia, honra que coube aos homenageados - “sinais que poderão perecer rotineiros, mas muito ricos de simbolismo e significado”, havia de afirmar Vitor Rosa.
Depois de formada a mesa para a sessão solene, com todos os representantes das diversas forças partidárias na Assembleia Municipal (AM) e tendo ao fundo a razoável representação de colectividades e instituições, e com o salão composto, onde marcaram presença os autarcas, a realização do evento que ficou a marcar as cerimónias deste ano.
Foi o descerramento dos retratos dos que foram, com Abril, presidentes da Assembleia Municipal: Manuel Alberto da Silva Ferreira (03/02/1977 a 10.01.1980), António Manuel Dias Cardoso (11.01.1980 a 28/12/1989) e Álvaro Pires dos Santos (29.02.1989 a 01.01.1998), evento que Vitor Rosa considerou uma “homenagem aos próprios”, mas também “extensiva a todos quantos se têm disponibilizado ao longo dos tempos a prestar um serviço em prol das suas e nossas terras e, consequentemente, dos cidadãos”.
Em nome dos três políticos, usou, no final da sessão e a anteceder o encerramento por Vitor Rosa, que presidiu ao acto, quem ocupou pela primeira vez a cadeira de presidente da AM, Manuel Alberto da Silva Ferreira.
“É antes de mais uma homenagem à própria Assembleia e uma homenagem à democracia”, afirmou Manuel Alberto da Silva Ferreira que manifestou congratulação pelo facto de ser a AM, -“santuário da democracia do concelho”, disse - a ter votado, por unanimidade, a proposta, da autoria do deputado laranja, o médico Manuel Nunes. Mas não esqueceu que aquele acto só fora possível graças aos eleitos e eleitores, ao afirmar que “sem eles e sem os que nos elegeram a nossa acção não teria algum valor” .
Para este ex-autarca, este gesto “era importante, não pela fotografia, mas por tudo o que ela encerra”.
ABRIL SEMPRE
O médico Fernando Peixinho (CDU) abriu a série de intervenções e abordou, por um lado, o regime fascista cujos crimes, lembrou, “estão quase apagados ou branqueados” , como “as prisões sem mandato, a devassa da vida de todos os que ousavam erguer a voz contra a ditadura, a PIDE/GGS, com as torturas, as sevícias e assassinatos, a guerra colonial e a exploração dos trabalhadores que formaram o caldo maldito em que cozeu uma longa noite negra a que só a revolução do movimento dos capitães de Abril pôs fim”.
Por outro, não deixou obviamente de recordar “as alterações profundas na sociedade portuguesa”, a democratização e a liberdade, enfim, “a igualdade de oportunidades que a aurora redentora da madrugada do 25 de Abril de 1974 nos tinha anunciado”. Mas não deixou de trazer à palavra dita “o recuo nas conquistas sociais conseguidas com Abril “.
Abordou a política internacional e criticou o alinhamento de Portugal com a América. “O meu país é hoje dependente de lógicas de alinhamentos internacionais que não prometem nada de bom”, como promete nada de bom o encerramento de muitas fábricas. Todavia, porque “homem de convicções, determinado nos princípios e nas causas em que sempre acreditei”, manifestou a convicção de poder ainda assistir à construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais solidária... um Abril sempre”.
A seguir, usou da palavra o representante do PS na AM, o advogado Óscar Aires, não para assinar discurso, mas para dizer dois poemas de Manuel Alegre (uma excelente ideia), concretamente “Canção de Manuel, Navegador”, de 1965, onde se lê “ não mais a falsa liberdade/da pátria que não tive/ que é tempo de ser livre/ meu povo domador de tempestade” e “Abril com R”, deste ano de graça dos 30 anos de Abril - “trinta anos depois querem tirar o r/ se puder vai a cedilha e o til/ trinta anos depois alguém que berre r de revolução r de Abril”
“UM DESAFIO DE MATURIDADE”
Menina quando meninou Abril, Laura Sofia (PSD) e, por isso, sem a memória da revolução, não deixou de homenagear “todos aqueles que lutaram e construíram esta mudança. A eles se deve a liberdade de que hoje legitimamente usufruímos”, pois que, de facto, foi “a Revolução de Abril que nos deu a democracia e que permitiu a Portugal entrar na caminhada do desenvolvimento”, de tal modo que “veio marcar uma viragem histórica no nosso país”.
A partir deste mote, Laura Sofia construiu o seu discurso, o das “grandes mudanças” que se registaram, na família, na educação, nas condições de vida, na saúde, na segurança social, na justiça, na economia. Mudanças que, muitas vezes, na sua opinião, não são valorizadas, por força “do nosso pessimismo cultural”, mesmo quando se verifica “o enorme salto evolutivo que Portugal foi capaz de dar” e que deve “constituir motivo de orgulho”, até porque esta evolução foi atingida num curto período de tempo”.
Laura Sofia, sem esquecer Abril, fez assim o discurso da evolução, mas não deixou de reconhecer que “por vezes, surge alguma excessiva crispação, alguma conflitualidade artificial e até algum exagero de linguagem que hoje caracterizam o nosso debate político”, mostrando alguma preocupação por este tipo de situações se basear em “querelas de circunstância sem verdadeira dimensão e importância política”, pondo de lado o confronto de ideias.
Terminou afirmando que, “trinta anos depois do 25 de Abril, este é um desafio de maturidade, de exigência e de responsabilidade”.
DEVIDA HOMENAGEM
Já Carlos Silvano (CDS) seguiu outro trilho no seu discurso, mas não sem cantar também Abril, pois ao movimento dos capitães se deve “a existência de uma sociedade democrática, com liberdade de opinião, com o direito de eleger e de ser eleito”. Se a eles se deve “ a acção daquela madrugada e a libertação do país de um regime que caducara”, a verdade é que, salientou, aqueles militares não regressaram aos quartéis, “como era sua promessa e perigaram a liberdade que nos tinham oferecido”, pois que, durante o processo revolucionário, “Portugal andou na corda bamba”
Carlos Silvano fez o discurso dos três: Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. Mas traçou, sobretudo, alguns erros da descolonização. “Ao sermos livres, esquecemo-nos da liberdade dos outros e da sua livre escolha”. Por isso, no seu entender, os povos de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné e Timor pagam por isso, a descolonização precipitada, como pagaram à chegada os retornados “como chagas da nossa libertação”.
Entretanto, na opinião do centrista, hoje é “uma prioridade proporcionar a todos as mesmas condições básicas de vida e de oportunidade” na educação, na economia, na saúde, na cultura, na acção social, “enfim, no desenvolvimento económico-social sustentado e equilibrado”, o que deverá ser feito longe da “questiúncula mesquinha, da busca da vitória pessoal e partidária”, longe “da crítica pela crítica sem opções”.
Esta maneira de actuar dos políticos locais e nacionais será a melhor maneira de “prestarmos a esse heróis a nossa devida e benvinda homenagem: não com palavras, menos ocas decerto, mas com obra e desenvolvimento”.
TEMPO DE PARTILHAR IDEIAS
Vitor Rosa, presidente da Assembleia Municipal, a encerrar, numa intervenção centrada nas conquistas de Abril, - “a liberdade política, uma e melhor e mais justa cidadania, a esperança de um Portugal mais solidário, com maior fraternidade e com melhores condições e qualidade de vida” , não deixou de referir-se à situação menos boa que o país vive - “alguma instabilidade social, os escândalos com que somos confrontados” e que não deixarão de “ser alguns dos factores determinantes para um défice de uma vivência mais salutar e mais desejável pelo comum dos cidadãos”.
Acrescentou ainda, a propósito das vantagens da revolução de Abril, a distância entre os ideais e as prática democrática, dizendo: “quão distantes estamos destes objectivos que então se perspectivaram!”. Expressou ainda a opinião de que estas comemorações deveriam ser encontro de reflexão para “partilharmos ideais e reflectir no sentido de mantermos ou alterar comportamentos para que o dia de amanhã seja de maior confiança e de esperança para nós e futuramente para os jovens”.
Era naturalmente também um recado para os políticos do concelho de Oliveira do Bairro.
Armor Pires Mota
Diário de Aveiro |
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