PROVEDORA DE COIMBRA ACUSA ERSUC DE

A Provedora do Ambiente de Coimbra, Helena Freitas, acusou hoje a administração da Empresa de Resíduos Sólidos Urbanos do Centro (ERSUC) de "manipular dados" para responder às exigências do Ministério do Ambiente no projecto da incineradora.
Em declarações à Agência Lusa, Helena Freitas manifestou-se "mal impressionada" com alguns dados novos que lhe foram apresentados pela ERSUC, para a elaboração do parecer sobre o sistema de tratamento de resíduos sólidos urbanos, que privilegia a incineração.
A ERSUC é a empresa responsável pelo destino dos lixos produzidos em 36 concelhos dos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria.
"Há uma certa manipulação de dados, há uma abordagem à valorização orgânica que não existia anteriormente, apresentada de forma muito pouco séria, e um aumento repentino dos resíduos produzidos", afirmou.
A Provedora do Ambiente e Qualidade de Vida de Coimbra elaborou um parecer sobre o projecto para a incineradora no litoral Centro, a pedido da autarquia, mas, face alguns "dados adicionais" da ERSUC que não lhe tinham sido fornecidos, foi-lhe solicitado uma nova apreciação, que é apresentada segunda-feira, na reunião semanal do executivo camarário.
"Basicamente, os dados adicionais são a candidatura ao Fundo de Coesão e dois documentos apresentados em assembleias gerais da ERSUC em Fevereiro e Março", referiu a bióloga, frisando que, após análise dos mesmos, entendeu não reformular o parecer.
Helena Freitas não percebe como se propõe "40 mil toneladas de resíduos para valorização orgânica em que metade é feita pelos próprios consumidores, como se fosse possível pôr as pessoas a fazer compostagem em casa".
"Isto é uma resposta pura e simples às exigências do Ministério do Ambiente, é inacreditável, perfeitamente irrealista, só pode ter sido feito em cima do joelho", disse.
Os autarcas têm mantido um "braço de ferro" com o Governo sobre o financiamento do projecto, exigindo um apoio de 50 por cento, mas o Ministério do Ambiente tem recusado ir além dos 25 por cento, justificando, em parte, com o cumprimento de normas comunitárias que privilegiam a optimização de circuitos e colocam a incineração em última linha no destino a dar aos resíduos.
A Provedora do Ambiente de Coimbra disse ter igualmente dúvidas acerca dos dados que apontam para o "aumento da produção de lixo incinerável (sem contar com a reciclagem, na região envolvida) para as 400 mil toneladas/ano, o que representa um acréscimo de cerca de 100 mil toneladas face ao inicialmente previsto".
"Esta subida inesperada da produção de resíduos leva- me a suspeitar de que existirão negociações em curso para incluir (na incineradora) resíduos sólidos urbanos de outras zonas do país que não terão alternativa", sustentou a especialista.
Após analisar os novos dados que lhe foram entretanto fornecidos, Helena Freitas concluiu que "é ainda mais óbvio que todo o sistema de tratamento proposto foi montado para a incineração de resíduos".
"Chumbo absolutamente o projecto nos termos em que está elaborado", insistiu, considerando que o que se esperava era um "sistema de gestão de resíduos não prisioneiro do que parece mais fácil - a incineração - e que apostasse, de forma séria, na reciclagem e valorização orgânica".
O projecto tem um custo estimado de 167 milhões de euros.
Os autarcas aguardam uma resposta do Estado à exigência de 50 por cento do financiamento, sem o qual, ameaçaram em Março, "terá de ser o Governo a resolver a situação do tratamento de resíduos nesta zona do país".
Helena Freitas, 41 anos, é doutorada em Ecologia Vegetal pela Universidade de Coimbra e pós-doutorada em Ecologia, Ecossistemas Mediterrânicos pela Universidade de Stanford (EUA).




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