O FIASCO DO FRANGO

Editorial O Fiasco do frango De um país de brandos costumes passámos ao reino da selva. Em quase tudo. De repente, ficámos com receio do frango, qualquer que seja o prato, no arroz de miúdos ou mesmo de churrasco. De credo na boca sem sabermos, na verdade, como calá-la. De repente, quase esquecemos o Carlos Cruz, os sacos azuis, o levantamento de imunidades de gente envolvida e que, em face da lei, não devia ter privilégios, mas continua a ter... De escandaleira em escandaleira, caímos agora na pouca seriedade de alguns empresários de aviário que estavam a fornecer a nossa morte, em pequenas doses, por certo a nossa doença, a pior que se pode desejar a um inimigo. E era aos consumidores, impávidos e serenos, que muitos empresários, sem uma nesga de escrúpulo e sem um pingo de ética, para não falar numa grande falta de respeito, dirigiam a pistola, armados em “assassinos ocultos”, como lembrou Paquete de Oliveira. Hoje reclamam inocência, desconhecimento, o costume. Com os males dos outros podem eles bem, pensarão inadvertida e irracionalmente. Como se já não bastasse o caso das vacas loucas. Aqui, quando o governo rosa acordou também já era tarde. Tal como agora. A medida do sequestro dos aviários “doentes” peca por tardia. A Direcção-Geral Veterinária tinha conhecimento do caso, em função de análises feitas há meses, o ministro Sevinate Pinto há semanas, mas só há poucos dias é que rebentou o escândalo. Com o estômago cheio de frango. Andamos todos a dormir na forma, veterinários, fiscalização e governo. Há largos meses garantidamente que muitos de nós andámos alimentando a nossa doença, a nossa morte. Durão Barroso afirmou mesmo que agora, sim, depois do estranho achado que tem muito de macabro e irracional e desprezível, os portugueses podem comer o frango sem medo, com segurança. Tanto o PS lhe fez ver que era preciso um discurso mais optimista que Durão Barroso nesta questão, tudo bem, devemos comer frango sem receio para a frente. Não nos parece, uma vez que não se sabe o que se passa para além dos aviários fiscalizados e sequestrados e só as grandes superfícies sabem quem são os seus fornecedores. Nós vamos mais, se pudermos, pelo carapau, algumas vezes pelo cherne. Até ver como vão ser as penalizações e saber se há inspecções periódicas. Não sabemos se é exactamente assim. Se Sevinate Pinto o come ou não. Os ministros são assim em público. Já Capoulas Santos garantia também que continuava a comer carne de vaca... Sabemos é que cada vez vamos vivendo com mais medos dentro de casa: são os impostos, é o custo de vida a subir e os ordenados a descer, é a porcaria da pedofilia, são prostitutas a leccionar aulas sobre educação sexual nas escolas (pelo menos, um caso), é agora a corrupção na Direcçao-Geral de Viação. Quando nos deixam, afinal, dormir tranquilos? Agora, são os frangos, criados com os nitrofuranos, substância cancerígena, o que nos põe os nervos em franja. Produto que é proibido comercializar na Europa. No entanto, parece que chegava e circulava em Portugal, proveniente de Espanha, através de uma rede que convencia os empresários a gastar este produto, a um preço muito mais em conta. Ganhava rede, ganhavam empresários, alguns, (hoje pagam os justos pelos pecadores...). Quem perdeu e continua a perder no campo da saúde é a população, sempre indefesa. Desta feita, dos donos dos aviários, que agora, com o encerramento e destruição de toda a produção infectada, já lançam a ameaça do desemprego de muitos trabalhadores, o que é lamentável, mas esquecem-se que, por certo, poderão ter concorrido para despedirem, da terra para o céu, milhares de pessoas um pouco mais cedo. Isto é um sério aviso ao governo, um alerta aos consumidores para a porcaria que enfardamos todos os dias. Como se já não bastassem as alfaces, as cenouras, os grelos, as hortaliças, que nos vendem e que foram feitas do dia para a noite. Sem remorso algum. Há muito disso já pela Bairrada e consequentemente nas nossas praças. O que importa é o lucro rápido, a saúde dos consumidores que se lixe. Produtos para o crescimento rápido de tudo, desde os produtos foliares até ao malfadado nitrofurano, é coisa que não falta nesta louca jangada de pedra onde infelizmente predomina a balda e falta uma fiscalização atenta, contínua e apertada. O embargo vem aí. Mais uma contrariedade Se o ministro não merece ser despedido, o que já foi tolamente reclamado pela esquerda toda em uníssono, pelo menos não escapa de uma justa assobiadela. Como fez a CNA. (14 Mar 03 / 10:11)
Diário de Aveiro


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