Hipismo – 1.º Campeonato Europeu de Equitação Adaptada
Galgar outras fronteiras
Manuel Zappa
O Hipódromo da Bairrada, em Arcos – Anadia, foi palco do 1.º Campeonato Europeu de Equitação Adaptada, onde participaram 62 conjuntos (cavalo/cavaleiro) oriundos de 16 países.
Portugal esteve representado por uma delegação composta por cinco cavaleiros: Carlos Batista, Filipe Teixeira, Nuno Costa, Mónica Monteiro e Sara Duarte.
Tratou-se da primeira iniciativa do género, realizada, quer em Portugal quer na Europa, onde o principal objectivo dos cavaleiros portugueses era a luta pela qualificação para o Mundial, a realizar na Bélgica no próximo ano, e para os Jogos Paralímpicos de Atenas 2004.
O campeonato foi da responsabilidade de uma Comissão Organizadora, cujos responsáveis foram Francisco Cancella de Abreu, da Turequus, Carlos Lopes, da Quinta do Senhor da Serra, e Acácio Lucas, da APPACDM de Anadia. A competição contou com o apoio de algumas empresas, entidades locais e da Câmara Municipal de Anadia.
Este Europeu, que colocou Portugal como país pioneiro na organização de uma prova destas características, surgiu na sequência de um trabalho de ensino de equitação a um grupo de jovens portadores de deficiências várias ao nível motor ou linguagem, entre outras, provenientes de paralisia cerebral e acidentes. Os resultados alcançados têm dado os seus frutos, dado que a Equitação Adaptada ou hipoterapia é um método cada vez mais utilizado na recuperação de deficientes tanto a nível físico como psicológico.
Para que a Selecção Nacional estivesse presente na Bairrada teve que ultrapassar algumas barreiras. Tudo, porque a modalidade de equitação adaptada não é reconhecida pela Federação Equestre Portuguesa, tão pouco pela Federação de Desporto Deficiente ou pelo Instituto Nacional do Desporto. Os cinco cavaleiros portugueses foram patrocinados por diversas empresas portuguesas, caso contrário era completamente difícil a sua presença no primeiro campeonato europeu de equitação.
Foi com a intenção de inverter este estado de coisas que os organizadores deste primeiro campeonato tentaram mesmo chamar a atenção das entidades oficiais e governamentais, no sentido de apoiarem a modalidade.
Uma ideia que parece ir avante, dado que a Federação Equestre Portuguesa e a Federação Portuguesa do Desporto Deficiente (FPDD) pretendem assinar um protocolo que visa, posteriormente, a apresentação de projectos ao IND e que permitam a obtenção de fundos.
O CAVALO, UM INSTRUMENTO TERAPÊUTICO
Na passada quarta feira, teve lugar o jantar da cerimónia de abertura do evento, que contou com a participação de várias entidades, das quais destacamos: António Neves, presidente da FPDD, Vitorino Vieira Dias, Secretário Nacional de Reabilitação, Jonquil Solt, do IPEC, Litério Marques, presidente da Câmara Municipal de Anadia e José Leão, Governador Civil de Aveiro, para além das comitivas dos países presentes que foram Alemanha, Espanha, Portugal, França, Rússia, Polónia, Dinamarca, Suécia, Noruega, Grã-Bretanha, Bélgica, Itália, Holanda, Israel, Canadá e Estados Unidos.
Acácio Lucas, presidente da APPACDM de Anadia, traçou em linhas gerais as motivações que conduziram aquela instituição a participar na organização do 1.º Campeonato da Europa de Equitação Adaptada: “Esta modalidade é para a nossa Associação uma actividade muito querida, uma vez que os nossos jovens começaram agora a praticá-la, tendo esta contribuído de forma francamente positiva para a educação, reeducação e reabilitação das nossas crianças e jovens”, pois que, acrescentou , “o cavalo revelou-se, assim, um instrumento terapêutico por excelência e um amigo por devoção das nossas crianças”.
Sentindo que a Associação está vocacionada para participar neste campeonato, Acácio Lucas mostrou-se fortemente lisonjeado pelo convite que lhe foi endereçado por Francisco Cancella de Abreu e Carlos Lopes, organizadores deste evento.
A terminar, Acácio Lucas agradeceu a todos aqueles que se têm envolvido para que a modalidade do hipismo adaptado seja uma realidade na nossa região, sobretudo na APPACDM de Anadia, traduzindo-se esta participação “num reforço da vontade de querer continuar a desenvolver e a praticar a hipoterapia”.
Misses Jonquil Solt não deixou de expressar a sua satisfação pela representação da equipa portuguesa, afirmando que todos iriam ficar espantados com as proezas de todos os cavaleiros.
As outras intervenções da noite foram no sentido de dizer que este campeonato iria abrir outras fronteiras, nomeadamente no campo internacional, aos cavaleiros portugueses e ao mesmo tempo permitir-lhes meios desportivos e burocráticos em futuras competições, constituindo este campeonato um momento inédito na história em Portugal das pessoas com deficiência.
(25 Set / 17:41)
Diário de Aveiro |
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