Editorial
Cimeira da terra de rastos
Armor Pires Mota
A “Cimeira da terra” que teve como palco Joanesburgo, África do Sul, para encontrar antídotos para safar de uma morte lenta o planeta, bateu no fundo. Isto é, não passou um conjunto de meras intenções. Os pobres saíram de mãos a abanar e a chorar mais miséria futura, enquanto os ricos ou os mais remediados não tiveram mais do que fazer do que encolher os ombros. Todos preocupados e ninguém. Nem um compromisso assinado nem um passo em frente a favor da terra, a favor dos milhões de homens e mulheres, quando nunca houve à disposição da humanidade tantos meios, quer sejam de ordem tecnológica, quer de ordem do saber. Nunca se soube tanto da terra e nunca ela foi tão maltratada. Por todos sem excepção. Ainda mais pelos ricos, que os pobres nem têm com que estragá-la. Tem é falta do essencial para prolongar a vida, em contínuo risco, como por exemplo esta coisa para nós sem importância, a água.
O pior é que essas tecnologias e as grandes cabeças são postas a trabalhar em sentido contrário, perverso, a favor de causas discutíveis, naturalmente. Normalmente, a favor de guerras, nunca de paz e do desenvolvimento sustentado do mundo cada vez mais insustentável, questão que levou a Joanesburgo os representantes dos 190 países que não acenderam nenhuma luz. Tudo ainda muito negro e perigoso como os buracos de ozono, fruto do efeito estufa que tem lançado o pânico em países onde já se sentem as cheias, que de resto, tendem a ser mais frequentes e maiores, se os homens, todos os homens, não arrepiarem caminho. A começar pelos grandes e a acabar nos mais pequenos. Mas como os grandes só darão um passo em frente quando as cheias lhes derem cabo das cidades, pontes e estradas, e matarem milhares de pessoas com um 11 de Setembro de trombas de água, é que acordarão. Poderá então ser já tarde de mais. Entretanto, enquanto isso não acontecer, os ricos continuarão a ser ricos, e tanto mais quanto mais gases deitarem para o espaço. Até porque o objectivo de afectar 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) dos países mais ricos aos países mais pobres (anunciado na Cimeira do Rio de Janeiro), continua só pura intenção, enquanto os Estados Unidos continuam a dar-se ao luxo de não assinar o Protocolo de Quioto, já lá vão dez anos, documento que visava a redução da emissão de gases para a atmosfera, que concorrem para a produção do efeito estufa e do aquecimento global do planeta.
Uma batalha que era importante levar por diante, era a utilização até 2015 de energias renováveis, (correspondendo a 15% do consumo mundial).
Ficou prejudicada em fase do poder do petróleo. Os Estados Unidos querem ser império à custa dos países mais pobres enquanto entre os países mais ricos e mais pobres se acentua o fosso. Uns têm tudo, outros, na África e na Ásia, não têm uma côdea. Uns esgotam pipas de água no banho, outros na Ásia ou África, não têm água potável para beber.
Para resolver em parte estes problemas - escassez de alimentos e até de água, falta de condições para a sobrevivência, equacionam-se ajudas, mas logo se esbarra em mil desculpas e questiona-se como fazer chegar as ajudas aos países onde não há democracia, mas ditaduras, onde há a corrupção nos governos, perdendo-se as ajudas em caminhos ínvios e mãos sovinas e cruéis. É um problema complexo este, mas há que encontrar soluções.
Como habitualmente neste areópagos muita palavra fora da boca, muita parra... só que o consenso para acções concretas ficaram nos antípodas do verdadeiro querer, porque não há vontade política nem ninguém quer perder as pantufas a favor das sandálias de plástico dos outros. Este é o dilema.
Por isso, a última “Cimeira da Terra” não passou de uma passeata em terra que já foi da Apartheid, mas onde se verificou um grande apartheid, a nível mundial, entre pobres e ricos. A declaração de Joanesburgo não passou assim de um documento de piedosas intenções que permite a muita boa gente dormir apenas sobre elas mais uns anitos, até que neste andar rebentem os diques de um dilúvio à escala de algumas cidades e ilhas.
Em face disto, é caso para cada um de nós tomarmos em nossas mãos a nossa salvação e a do planeta terra. Como? A começar por pequenas coisas: renunciando o mais possível ao automóvel, evitando a degradação do ambiente, pondo de lado o uso de produtos químicos, as descargas poluentes que matam os rios e os cursos de água, conspurcando-a, deixando nas prateleiras dos grandes superfícies todos os produtos de cosmética que, como os aerossóis, prejudiquem também a atmosfera, complicando a respiração, denunciando e castigando os incendiários que vão arrancando de junto de nós os pulmões, que são as florestas.
O futuro pertence-nos mais folgado e mais limpo se nós quisermos. E já que os políticos com ideias de plástico parece não se entenderem, não se sabe se por estarem apanhados já pelo mau ar que se respira, se por interesses mesquinhos que se sobrepõem aos interesses da própria humanidade, a sua própria sobrevivência, façamos nós, autarquias e cidadãos, alguma coisa em cada dia.
(11 Set / 9:52)
Diário de Aveiro |
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