O auditório do Museu do Vinho, em Anadia, serviu de palco, no passado dia 10 de dezembro, Dia Internacional do Direitos Humanos, ao seminário sobre Maus-tratos na Infância.
Numa altura (2015) em que esta problemática se faz sentir nos vários concelhos da Bairrada, foi avançado que a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco de Águeda acompanha 313 casos ativos e a de Anadia 46.
Segundo a coordenadora da UCC Anadia, enfermeira Silvana Marques, “o mautrato infantil engloba um leque variado de situações de negligência e/ou abuso, físico, emocional, sexual; bem como a exploração de crianças e a sua exposição à violência entre seus pais, resultando desta forma em danos reais ou potenciais no seu bem-estar, sobrevivência, desenvolvimento e dignidade.”
A sessão de abertura contou com a presença da presidente da Câmara Municipal de Anadia, Teresa Cardoso, Lúcio Almeida, em representação do presidente do Conselho Diretivo da ARS Centro, IP ; enfermeira Ana Isabel Sá em representação do diretor Executivo do ACES Baixo Vouga e João Paulo Anjos, presidente da CPCJ de Anadia.
Na ocasião, João Paulo Anjos, falou da necessidade de se saber lidar com estas situações “e proteger aqueles que são as maiores vítimas, o elo mais fraco”.
Já a edil Teresa Cardoso destacou a importância da reflexão, não deixando de ser um contrassenso “numa altura em que se debate a baixa taxa de natalidade e a falta de crianças, estar-se a refletir sobre maus-tratos infantis”, estando a Câmara de Anadia “empenhada no acompanhamento às famílias, pelo que, no dia a dia, são apoiadas no concelho diversas famílias” – alimentação, vestuário, alimentação, etc, com o objetivo de “construir uma comunidade mais saudável e feliz e com mais qualidade de vida”.
Num evento muito participado – estiveram presentes cerca de 80 participantes ligados à Saúde, Educação, IPSS’s -, os temas apresentados no seminário focaram-se no desenvolvimento da criança e do jovem num ambiente de violência interparental; passando pelo Papel da Medicina Legal nos maus-tratos na criança e jovem. A proteção jurídica da criança vítima de maus-tratos e o Trabalho em rede no combate à violência – O Papel das CPCJ foram outros temas abordados durante o dia.
Graves consequências. Na sessão de encerramento esteve a Delegada de Saúde – USP ACeS Baixo Vouga, Fernanda Pinto, que abordou o trabalho realizado pela NACJR nos Centros Saúde. Já o presidente da CPCJ de Anadia, João Paulo Anjos agradeceu o trabalho desenvolvido pelas CPCJ no combate a esta problemática.
De acordo com Silvana Marques “o abuso e a violência sob todas as suas formas, podem causar graves prejuízos no seu desenvolvimento, com repercussões de longo prazo.”
Por isso, é essencial entender as suas ramificações não só como pais, mas como sociedade, de forma a que a mesma se possa prevenir, detetar e eliminar. “Transtornos ou traumas no início da vida podem resultar numa variedade de problemas, entre os quais a depressão, a agressividade, o abuso de drogas, os problemas de saúde e a infelicidade”, sublinhou Silvana Marques, que destacou um dado preocupante: “quando adultos, estas vítimas têm altas taxas de ansiedade, de transtornos de stress pós-traumático, e são mais propensas a se envolverem em comportamentos criminosos. Urge, sem dúvida, uma intervenção precoce sobre esta matéria, é assim necessário promover este tipo de formações de forma a capacitar os profissionais para estas questões.”
Programas que visam a prevenção. Durante e seminário, foram ainda apresentados alguns programas que visam à prevenção de maus-tratos na infância, promovem fatores de proteção e reduzem os fatores de risco. De entre as estratégias preventivas mais eficazes, destacaram-se: Visitas domiciliares no período perinatal; Cuidados infantis e programas preventivos de educação na primeira infância; Educação do público, com campanhas nos meios de comunicação e conscientização sobre os temas; Formação de profissionais, com melhor capacitação para a identificação de maus-tratos e melhores instrumentos de triagem; Capacitação da comunidade para identificação destas questões. Esta intervenção tem o potencial de ajudar crianças e famílias.
A identificação precoce de maus-tratos na infância reduz sem dúvida os custos individuais, os custos médicos e os custos sociais, não mais que custos diretos e indiretos. Os profissionais da área da saúde, social e educação devem poder desempenhar um papel-chave na avaliação de cada caso e na identificação de situações de risco, evitando assim grandes tragédias.
Catarina Cerca
Diário de Aveiro |