Unidos pela mesma fé, em redor de Maria. De Cantanhede e outras paragens, rumaram, aos milhares, ao santuário da Senhora de Vagos. Como manda a tradição, alguns dos peregrinos (poucas centenas), fizeram o percurso a pé, partindo de madrugada da sede do município, e dos restantes lugares da freguesia (Póvoa da Lomba, Lemede, Varziela, Franciscas, Lírios e Tarelhos).
Chegaram a Vagos por volta das 10 horas, dirigindo-se, em procissão até ao santuário, levando consigo a cruz paroquial, bandeiras e outras insígnias. No interior da capela ps devotos haveriam de cumprir, em silêncio, suas promessas, celebrando, deste modo, uma história religiosa que data do século XII, quando o primitivo santuário foi “entregue” ao Convento de Grijó.
Uma ligação particularmente afectiva e humana da fé, num “cruzamento de gentes, sensibilidades e perspectivas”, como apontou o padre Luís Francisco, da paróquia de Cantanhede. Memória que mais não é senão “renovação, criatividade e actualização” da mensagem de Maria, referiu.
Este ano, a celebração eucarística festiva foi presidida, pela primeira vez, por D. António Moiteiro, e contou, como habitualmente, com a presença, entre outros, dos autarcas de Vagos e Cantanhede.
Na homilia, o novo bispo diocesano, que concelebrou com vários sacerdotes do arciprestado, destacou o jubileu extraordinário dos 50 anos do encerramento do Concilio Vaticano II – o “catecismo dos tempos modernos”, segundo Paulo VI.
Centrada na elevação de Santa Maria, “mãe do amor formoso”, a palavra do prelado aveirense foi “direta” à oração e à grandeza de Deus, que disse ser a “alegria de Maria”.
Igreja, fermento e luz. Justificando a escala de valores no mundo em que vivemos, onde, segundo disse, “o estar acima do outro é trepar seja à custa de quem for”, D. António Moiteiro admitiu, por outro lado, que celebrar Santa Maria de Vagos é celebrar o “modelo da igreja que é Maria”, e o compromisso da igreja “ser hoje sinal, fermento e luz e testemunha de Cristo ressuscitado”.
A meio da tarde, antecedida do terço, decorreu a cerimónia da bênção do bodo, considerado por alguns peregrinos como gesto “mágico supersticioso”. Perto de uma centena de bodos (mais de 20 mil pães) foram benzidos, com destaque para as representações das paróquias de Cantanhede e Varziela, Pocariça, Lemede, S. Caetano e Póvoa da Lomba.
Ao princípio da noite, teve lugar a procissão de velas. Com saída do santuário, em direcção ao centro da vila, nela se incorporaram muitos milhares de devotos, que entupiram literalmente a EN 109.
Eduardo Jaques
Colaborador
Diário de Aveiro |