RIA(SEM)PLANO DE FUTURO

Vazio. Silencioso. Sombrio. Dificilmente alguém associa estes adjectivos à realidade que se vive num Centro Comercial. Vazio. Silencioso. Sombrio. Dificilmente alguém que já tenha entrado no Riaplano pode deixar de associar estes adjectivos àquele espaço. Aquele que foi o primeiro Centro Comercial a abrir portas na cidade de Avei­ro é, hoje, um lugar quase fantasmagórico. Vazio. Silencioso. Sombrio. Ao invés dos mais expectáveis anúncios de “saldos”, “promoções” ou “no­va colecção”, as palavras que enfeitam as montras das lojas são “alu­ga-se”, “vende-se” ou “per­mu­ta-se. Os sinais de despejo pululam pelos corredores pouco iluminados. Nos mesmos corredores onde ecoa o murmúrio de uma televisão que paira des­de o café e se espalha por todo o espaço. Vazio.
A nossa primeira visita ao espaço que surge camuflado na Rua Alberto Souto aconteceu por acaso. Só mesmo um acaso pode levar alguém que não conheça o Riaplano a passar debaixo do letreiro que sinaliza a sua única entrada. Um Centro Comercial que já nem isso é, a avaliar pelas letras que faltam. “Ce_ _ ro Co…”. É tudo o que resta no exterior. E lá dentro? Passar as grades azuis depois do letreiro mutilado pelo tempo é quase como transpor um portal para o desconhecido. Depois, é perceber a realidade que nos rodeia. A falta de agitação. De movimento, sequer. De vida.
Dizer que falta vida no Riaplano não é o mesmo que afirmar que faltam vidas. Ainda há gente que tem ali o seu emprego. Trabalhadores que todos os dias, há mais de uma década em quase todos os casos, transpõem aquele pórtico e entram numa realidade paralela. Fazem-no com mais ou menos vontade. Com maior ou menor preocupação com que se passa em seu redor. Com o que não se passa, em seu redor.


Diário de Aveiro


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