Oliveira do Bairro
A cidade e os cães
Foi com incomensurável espanto que li a notícia neste jornal da proposta apresentada para a elevação da vila de Oliveira do Bairro a cidade. A obstinação de ter e ser cidade continua a atingir muitos autarcas por este país fora e desta feira fez novas “vítimas” em Oliveira do Bairro. Sem a população ter sido consultada sobre esta mudança, que, segundo os seus proponentes, só vai trazer vantagens, esqueceram-se estes, no entanto, de falar nas desvantagens que uma cidade apresenta.
Eu e muitas pessoas como eu, habitantes da vila de Oliveira do Bairro, não estamos dispostos a que, em pouco tempo, esta vila se transforme num amontoado de betão com estradas entupidas de trânsito e com índices de criminalidade a aumentar. A qualidade de vida é algo que não tem preço, mesmo que nos ofereçam de mão beijada esse título pomposo de cidade. Quantas pessoas não trocariam, se pudessem, a cidade de Lisboa pela vila de Oliveira do Bairro?
Mas sejamos honestos: será que mesmo enquanto vila, teremos um conjunto de infra-estruturas capazes de nos potenciar a cidade? O que vemos neste momento é um trânsito caótico no centro da vila sem alternativas de estradas que a circundem, a falta de parques de estacionamento, um centro de saúde em nítido estado de degradação e em risco de perder o internamento, uma escola do 1º ciclo a necessitar de um edifício novo, a principal artéria da vila sem passeios para as pessoas andarem, a falta de novos jardins e áreas públicas, a inexistência de uma sala de espectáculos, etc. A juntar a estas lacunas todas, e, como se estas já não bastassem, surgiu no centro da vila um conjunto de cães vadios que ali fazem a sua vida e que têm como passatempo principal ladrar aos carros, perseguir e por vezes atacar os habitantes da futura cidade de Oliveira do Bairro.
Estes cães ao tomar estas atitudes, será que não estarão também eles a manifestar-se contra a passagem desta vila a cidade?
António José M. M. Campos
(27 Jul / 11:10)
Diário de Aveiro |
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