ENTREGA DO PRÉMIO DE JORNALISMO ADRIANO LUCAS

A historiadora Matilde de Sousa Franco encheu ontem o salão nobre da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra com a humanidade de Adriano Lucas. Ao discursar na Sala de S. Pedro, na cerimónia de entrega do Prémio de Jornalismo Adriano Lucas, a antiga responsável do Museu Nacional Machado de Castro recordou a luta do Director “in memorium” do Diário de Coimbra «em prol da democracia, através da sua inteligência, bondade e independência».
«Da multímoda acção do Engenheiro Adriano Lucas», prosseguiu, «tem, muito justamente sido enfatizada, em diferentes e variados quadrantes democráticos, a sua permanente, corajosa e liberal defesa da expressão de pensamento, através dos meios de comunicação social, sobretudo na imprensa diária regional».
A invocar a alegria sentida por ser convidada para membro do júri do Prémio de Jornalismo – pelo «profundo amor a Coimbra» e «imenso apreço» pelo Engenheiro Adriano Lucas - Matilde de Sousa Franco destacaria o relevante papel do decano dos dirigentes da imprensa regional, aquando da sua morte (2011), e a voz que deu à região das Beiras, com mais de 60 anos à frente do Diário de Coimbra («fundado em 1930 pelo seu pai») e pela fundação dos jornais Diário de Aveiro, Diário de Leiria, Diário de Viseu e Rádio Regional de Aveiro.
Do director do jornal que mais penalizado foi pela censura (o Diário de Coimbra esteve suspenso um ano), Matilde de Sousa Franco lembrou ainda a participação na comissão que elaborou a primeira Lei de Imprensa a seguir ao 25 de Abril, e a participação na fundação do Centro Protocolar de Formação de Jornalistas e da agência Notícias de Portugal. E ainda uma outra faceta, menos institucional, mas reveladora dos valores que Adriano Lucas defendia.
«Tardiamente, cultivou a poesia», diria. Dos poemas do Engenheiro Adriano Lucas, Matilde Sousa Franco seleccionou um, de 1998, «pela actualidade mundial e por ser um bem-humorado hino à alegria». O poema “Se eu fosse conselheiro”, que leu na cerimónia, exalta a alegria e o grande valor do amor. Da leitura, Matilde de Sousa Franco retirou um desafio: «podem os jornalistas, e não só, criar uma mais-valia para a Lusa Atenas com artigos científicos sobre alegria e felicidade?». Uma questão a que responderia ao entender «adequado, estimulante e útil que Coimbra, a capital da saúde, seja também a pioneira capital do bem-estar, da alegria, da felicidade científica». Da felicidade científica, observou, «como é estudada em várias universidades estrangeiras», mas também da «felicidade em geral». Assim, rematou, estaríamos mais uma vez «a homenagear o Engenheiro Adriano Lucas, que enfatizou a alegria».
A historiadora, que elogiou o trabalho vencedor “todos os Livros”, de Mariana Oliveira, e destacou também as duas menções honrosas, realçou ainda «a sabedoria e o mérito das três entidades intervenientes neste premio anual, numa exemplar concretização de espírito democrático». A ligação entre o poder autárquico, a Universidade e uma empresa são «um modelo do que se pode fazer (…) a fim de se alcançar uma maior projecção nacional e internacional», perspectivou, ao considerar que «o jornalismo, se alicerçado nas novas tecnologias, pode destacar as mais-valias de Coimbra «na aldeia global, neste mundo onde pululam problemas demasiados tristes e angustiantes».|

Uma “reportagem inteligente e oportuna” sobre a BGUC

Instituído em 2011 por iniciativa da então vice-presidente da Câmara, Maria José Azevedo Santos, o Prémio de Jornalismo Adriano Lucas teve a imediata adesão da Universidade e do Diário de Coimbra. A homenagem ao Director “in memorium” e fundador do Diário de Aveiro distinguiu este ano “Todos os livros”, um trabalho de Mariana Oliveira, estudante da Faculdade de Letras, sobre a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC).
O Prémio, entregue no espaço que inspirou o trabalho vencedor, permitiu mostrar que «as bibliotecas são mais do que o que parecem». E a «Mariana empenhou-se em demonstrar que é assim «numa reportagem inteligente, justa e oportuna», enalteceu José Augusto Bernardes. O director da BGUC assinalou precisamente a oportunidade do tema, numa altura em que circula a ideia de que as bibliotecas são «uma coisa anacrónica, que não servem os desígnios da investigação futura». Ora, «é preciso desmentir isso», acentuou, ao reparar que o trabalho vencedor «exalta a missão» da biblioteca, sem ocultar os seus problemas.
Ao receber o galardão, traduzido num valor pecuniário, Mariana Oliveira, de 22 anos e natural de Beja, admitiu «um fascínio, quase encantamento», que lhe despertam as bibliotecas, mas também «um sentimento incómodo, de quase angústia», porque «nos confrontam com o pouquíssimo, quase nada, que viremos a saber». Num trabalho que procurou, antes de tudo, que fosse reconhecido como justo pelas pessoas que trabalham na BGUC, «aprendeu muito mais do que pôde mostrar» no Diário de Coimbra. «Tudo isto é muito mais do que possa caber em duas páginas de jornal», resumiu a estudante de Estudos Portugueses e colaboradora na Rádio Universidade de Coimbra.
Nesta edição, os cinco elementos do júri – representantes da Câmara Municipal, da Universidade, do Diário de Coimbra, e, por convite, o jornalista Jorge Castilho e a historiadora Matilde de Sousa Franco – atribuíram ainda duas menções honrosas aos trabalhos “Sabino, o guarda passarinho”, de Mário Nicolau, e a “Mãos mágicas que fazem esquecer o cancro”, de Francisco Fontes.
A dirigir a cerimómia estiveram Carina Gomes, vereadora da Cultura da Câmara de Coimbra, Clara Almeida Santos, vice reitora da UC, e Adriano Callé Lucas, director do Diário de Coimbra do Diário de Aveiro.|

Poema

Então directora de MNMC, Matilde de Sousa Franco conheceu o antigo director do Diário de Coimbra em 1980. A colaboração em iniciativas por Coimbra tornou-se amizade, tendo a historiadora lido ontem um poema de Adriano Lucas, de 1998, mas muito actual.

“Se eu fosse
Conselheiro”

Se eu fosse Conselheiro
não aconselhava o teu reino.
Aconselhava o Mundo inteiro.

Se aconselhasse as finanças,
diria que o grande Valor
não é o Dinheiro mas o Amor.
Reduziria as ganâncias.

O amor de ensinar
em vez de castigar,
levaria as finanças ao altar.

Para o dinheiro necessário e suficiente
reduziria as despesas comuns
e valorizava as receitas
melhorando a economia
como um investidor bom faria.

Nas empresas onde detivesse
quarenta por cento (ou a dízima)
ensinava-as a bem gerir e organizar
em vez de as castigar e eliminar.

Tantas são as receitas
para este pobre País
e para o Mundo Inteiro
reduzia os mandões,
castigando os vilões.

Incentivava os criadores
e os investigadores.

Investia no bom ambiente
na redução da poluição
e das extracções crescentes
que vão acabar por esgotar
e dão cabo das gentes.

Se fosse Conselheiro,
Não queria físcais policiais,
nem multas piramidais.
Ensinava primeiro.
Queria professores
em vez de torturadores
Seria o meu Conselho
Para o Mundo Inteiro

Seria uma Alegria
pagar os impostos
Que tivessem apostos
Essa mais-valia

Todo o Mundo
bem diria
a esse poço sem fundo
Bendita Alegria

Adriano Lucas 1998-12-11


Diário de Aveiro


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