No rescaldo do Sanguedo – Aguinense
A revolta dos bairradinos
Manuel Zappa
Depois do nulo no jogo da primeira volta, a crença de adeptos, jogadores, treinador e dirigentes do Aguinense, de que o seu clube era capaz de ultrapassar o Sanguedo e conquistar o seu primeiro título, em 43 anos de existência, era enorme, depois de, na época de 84/85, esse feito lhe ter fugido para o Fermentelos, numa final que contou ainda com o Argoncilhe.
Razões mais do que suficientes conferiam-lhe o estatuto de que, mesmo jogando no terreno do adversário, com a canícula que se fez sentir, o Aguinense tinha como cartão de visita o facto de se apresentar em campo invicto no campeonato e de Sanguedo invicto saiu, dado que os bairradinos só perderam no prolongamento.
Dentro de todas estas conjecturas, os adeptos do clube de Aguim não ficaram insensíveis à grande final. De tal forma que mais de duas centenas de pessoas se deslocaram-se a Sanguedo para apoiar a sua equipa. O jogo, em vários momentos, foi empolgante. O Aguinense, já no segundo tempo, adiantou-se no marcador, mas, a oito minutos dos noventa, os locais empataram, forçando o jogo a um nefasto prolongamento.
Nesse período, os locais deram a volta ao jogo, mas para conseguirem esse desiderato, tiveram “a ajuda divina” daquele que foi considerado o melhor árbitro da AFA, Sérgio Silva, que subiu aos nacionais.
Na primeira parte, o juiz aveirense realizou uma arbitragem sem casos e absolutamente tranquila mas o seu comportamento mudou após o intervalo e a sua actuação foi desastrosa, com clara tendência para os locais. A sua dualidade de critérios foi incomensurável. Faltas ao contrário, decisões caricatas, tanto no capítulo técnico como disciplinar e duas grandes penalidades que não assinalou no prolongamento. Uma sobre Tiago, outra em que dois jogadores do Sanguedo meteram a mão à bola na sequência de um livre de Rui Castro. Toda a gente viu, menos o árbitro, o que levou a um final, que teve mais oito minutos para além dos trinta, culminando num jogo em que os adeptos do Aguinense se manifestaram ruidosamente contra uma arbitragem que nada dignificou esta final e o próprio Conselho de Arbitragem da AFA.
Apetece dizer que Sérgio Silva foi a cereja no topo do bolo para o Sanguedo e, como diziam os adeptos do Aguinense, a verdade desportiva foi adulterada.
ANTÓNIO LAGOA SEM CONTEMPLAÇÕES
Baptista, treinador/jogador do Sanguedo, era no final da partida um homem feliz, não se alongando muito nas cambiantes que o jogo conheceu: “Foi uma grande final. Acho que merecemos a vitória, pois no prolongamento fomos mais fortes. Parabéns ao Aguinense, que discutiu sempre a vitória”.
Sobre Sérgio Silva, Baptista disse: ”Tirando um lance ou outro, penso que esteve bem. Só foi pena as expulsões”.
Sentimento oposto tinha António Lagoa, presidente do Aguinense, que não teve pejo em afirmar que o árbitro foi “corrupto”, afirmação que, momentos antes, tinha dito também ao próprio árbitro e que o iria dizer também em sede própria aos responsáveis pela arbitragem da AFA.
Sobre o jogo, António Lagoa foi deveras corrosivo: “A única coisa que posso dizer é que esta final teve duas meias finais. Quem assistiu à primeira meia sabe que a segunda foi o prolongamento da primeira”.
Sem se deter, o líder do Aguinense, abordou que “não são os melhores que ganham, nem os que melhor jogam”.
No que ao jogo diz respeito, António Lagoa disse que “foram dois jogos bem disputados entre duas equipas com um futebol bastante competitivo e qualquer uma delas podia ter ganho. Agora, o que custa é perder da forma como perdemos”.
O TRATAMENTO NÃO FOI IGUAL
Vítor Henriques não foi tão contundente na análise à partida, contudo, não deixou de enviar algumas indirectas à forma como o jogo foi conduzido.
No que toca ao comentário ao jogo, o treinador do Aguinense referiu que “foi um jogo de muita luta e entrega. Apesar do Sanguedo, no primeiro tempo, possuir o controlo do jogo, as melhores oportunidades de golo foram nossas. No segundo tempo até à obtenção do nosso golo, fomos a equipa mais perigosa, mas, a partir daqui, assistimos a um maior assédio dos locais, tendo estes chegado ao golo através de um lance de bola parada”.
Sobre o prolongamento, Vítor Henriques salientou que “foi difícil controlar o rendimento físico dos jogadores, dado que, há dois meses, reduzimos as cargas de treino, já a pensar na próxima época”.
Todavia, para o técnico do Aguinense, para além da brilhante prestação do clube ao longo do campeonato, não foi o aspecto físico que condicionou totalmente a sua equipa: “Foi a dualidade e o respeito como as equipas foram tratadas. É muito complicado ganhar a equipas que jogam completamente à vontade, batem e castigam, passando ao lado das leis. A única mágoa com que fico foram as expulsões. Num só jogo vi três jogadores serem expulsos, quando, ao longo da época, em 31 jogos, apenas tivemos um vermelho”.
Sobre a actuação de Sérgio Silva, Vítor Henriques, em tom lacónico, disse que “foi o melhor árbitro de Aveiro e está tudo dito. Aquilo que se passou em Sanguedo, é que existe uma tremenda falta de qualidade no futebol português. Em tudo. A arbitragem esteve de acordo com essa realidade”.
Na sua opinião, o critério desta final deveria ser jogada num só jogo e em campo neutro, mas como foi jogada a duas mãos, os golos fora deviam contar.
A finalizar, Vítor Henriques deixou uma palavra de grande amizade para toda a equipa, sobretudo a Miguel Ângelo, impedido de dar o seu contributo à equipa por, dias antes, ter sofrido um acidente de viação e se encontrar hospitalizado em Coimbra, como também ao muito público que se deslocou a Sanguedo: “Daqui faço um apelo para que na próxima época os adeptos apoiem o clube fora e em casa, nessa luta desigual que será a 1ª Divisão”.
(20 Jun / 17:03)
Diário de Aveiro |
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