MULHERES SÃO MENOS QUE OS HOMENS NO MUNDO DA CIÊNCIA |
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Ciência e Tecnologia
Investigação / UE
Mulheres são menos que os homens no mundo da Ciência
As mulheres ocupam quase metade dos cargos de investigação científica em Portugal, quadro que diferencia o país na Europa, onde, segundo um relatório divulgado hoje em Madrid, existe discriminação contra a ciência no feminino.
O relatório, publicado pela Comissão Europeia, traça pela primeira vez a situação das mulheres cientistas em trinta países europeus, os 15 estados membros da Europa comunitária e os 15 associados ao V Programa Quadro.
Os dados, apresentados durante um seminário organizado pela presidência espanhola da União Europeia sobre «Mulheres e Ciência: promover as mulheres no sector científico«, foram coligidos por um conjunto de representantes nacionais conhecido por «Grupo de Helsínquia sobre Mulheres e Ciência«.
O relatório, uma compilação de perfis estatísticos nacionais, confirma que existe discriminação contra as mulheres na área da Ciência na Europa e que, à medida que se aproxima o topo da hierarquia académica, mais baixa é a proporção de mulheres nos cargos.
«De facto, universalmente, as mulheres são apenas uma pequena minoria nos cargos científicos de topo«, revela o estudo.
Um indicador que contrasta com o facto de as mulheres constituírem a maioria dos pós-graduados, nomeadamente nas áreas das ciências médicas e biológicas.
No entanto, de acordo com números do Observatório (português) das Ciências e das Tecnologias (OCT) citados pelo relatório do grupo de Helsínquia, em Portugal a percentagem de mulheres em cargos de investigação científica é de 43,5 por cento.
Além disso, a percentagem total de mulheres no topo da carreira profissional é actualmente de 17 por cento.
Esta situação, juntamente com o aumento do número de mulheres na área da investigação científica, coloca Portugal numa posição particular na Europa, onde existe uma tendência de estabilização no número de mulheres cientistas desde a década de 80, indica o relatório.
No entanto, o documento refere que estes números não devem esconder a existência de diferenças entre géneros no que diz respeito à representação de homens e mulheres nas diferentes ciências, e ainda relativamente à sua posição na carreira científica.
A particularidade do caso português explica-se por duas razões históricas relacionadas com aspectos sociais e políticos.
A primeira tem a ver com o quadro político vivido até 1974, em que o acesso a um sistema de educação mais elevado era ditado pelo estatuto social, independentemente do sexo.
No final da década de 60, a percentagem de mulheres a estudar ciências exactas e naturais, nomeadamente matemática e biologia, era muito mais alta em Portugal do que na maioria dos países desenvolvidos.
A selecção baseada no género era mais notória no mundo profissional. Por exemplo, as mulheres dominavam na docência, mas não ao nível universitário.
Ainda por razões políticas, o desenvolvimento da investigação em ciências sociais foi refreado até 1974, enquanto que a prática de pesquisa científica estava confinada às universidades e ao único laboratório estatal existente.
Todos estes factores contribuíram para o recente desenvolvimento da comunidade científica portuguesa e para o nascimento da ciência como profissão.
Um desenvolvimento verificado ao longo dos últimos 20 anos, período caracterizado por um crescimento geral das taxas de emprego das mulheres devido ao desaparecimento de barreiras formais no seu acesso ao trabalho remunerado e a algumas profissões qualificadas.
O início da Democracia, em 1974, contribuiu para a democratização das profissões e da educação, assim como para o desenvolvimento da ciência, alterações que se reflectiram no surgimento de novas oportunidades para as mulheres.
Hoje em dia, elas representam a maioria dos licenciados e pós-graduados em Portugal.
Alguns sociólogos citados pelo relatório europeu consideram mesmo que o desenvolvimento da comunidade científica portuguesa nos últimos 20 anos foi parcialmente alcançado através do contributo das mulheres.
No entanto, refere o documento numa análise à situação portuguesa, existem barreiras «invisíveis« no acesso das mulheres aos domínios científico e tecnológico, ao topo da carreira profissional e a posições relacionadas com poder e influência.
Barreiras que, prossegue, mesmo perpassando toda a comunidade científica, parecem ser mais acentuadas no campo das ciências exactas e naturais.
A longa história destes campos científicos no país e a competição que daí advém podem explicar estas diferenças entre géneros, mas dados recentes sugerem progressos neste domínio.
A percentagem total de mulheres no topo da carreira profissional é agora de 17 por cento, enquanto que em 1995 era de apenas 6 por cento.
Em 1999, o Conselho de Ministros de Investigação dos Quinze adoptou uma resolução sobre as mulheres e a ciência, exortando os Estados membros a dialogarem sobre as políticas nacionais nesta matéria.
Vários Estados membros e países associados instituíram medidas de acção e políticas positivas neste domínio, que o relatório hoje divulgado sintetiza.
A este propósito é sublinhada, em Portugal, a criação do Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT), em 1995, e de toda a sua estrutura, nomeadamente o OCT e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que ofereceram a possibilidade de actualizar o quadro institucional da política científica e tecnológica.
Por tudo isso, prossegue o documento, houve uma evolução positiva na forma de lidar com a questão do género em Portugal, e os indicadores estatísticos traduzem a atenção que lhe foi prestada.
(6 Jun / 17:44)
Diário de Aveiro |
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