Durante quase dez anos, centenas de analfabetos ou pessoas com dificuldades em passar nas provas tiveram a oportunidade de comprar cartas de condução em centros de exames de Mirandela e Bragança.
A rede, na qual estarão envolvidos pelo menos o dono de uma escola de condução de Aveiro e respectivos funcionários, foi desmantelada pela Polícia Judiciária no ano passado. Agora, o Ministério Público (MP) do Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto deduziu acusação contra 116 arguidos - nove são empresas - decidindo, contudo, suspender provisoriamente os processos dos alunos, um dos quais será o jogador Fábio Coentrão.
O MP está convicto de que em causa estava um esquema concertado entre examinadores, instrutores e empresários que passava pela venda de cartas a quem não podia ou não conseguia obtê-las pelas vias “normais”. As quantias monetárias que recebiam seriam, depois, repartidas entre todos.
Trata-se de um processo complexo, com mais de 30 volumes, e que inclui escutas telefónicas. Terá sido aliás, através das conversas mantidas entre os suspeitos que as autoridades recolheram fortes indícios de que a actividade era organizada, sendo os instrutores angariadores de “clientes” que pagariam entre 2.500 e quatro mil euros para obterem as cartas de condução.