DE ÁGUA PARA PIROLITOS... A FOSSA IMUNDA |
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Quinta da Além (Covões)
De água para pirolitos... A fossa imunda
O que já foi em tempos remotos uma nascente de boa água para abastecer pequena fábrica de pirolitos cuja responsabilidade de exploração era de Manuel Martins Priminho e de Manuel Martinho Martins, da Mamarrosa, hoje é um charco pestilento, com lama a exalar maus cheiros, “uma fossa autêntica”. E o dono, da Quinta de Além , freguesia dos Covões, Amadeu Rodrigues Manata, não cabe em si de revolta, porque se considera vítima de um atentado ao ambiente que não quer mais calar.
Por sua vez, Rosa Augusta da Conceição Manata, acusada desta situação diz que “é um inferno que aí está” enquanto o marido, Mário Santos, sacode a água do capote. Um caso a que não são alheias divergências de famílias.
Queixas sem resposta
“Veja como está a água”, dizia-nos Amadeu Manata, para logo acrescentar que “agora, não é nada, no verão é um cheiro!”. Na verdade, o cheiro estendia-se por toda aquela superfície que mais configura uma pequena piscina, onde, em vez de água, há um verdadeiro pântano com cerca de 60 centímetros de altura. “Aqui era uma mina”, e muita gente ali acorria à nascente, - “ toda a gente do Bairo vinha aqui”, - foi explicando Amadeu Manata, emigrante no Luxemburgo, que, em todos os regressos à terra, se debate, há largos anos, com este problema.“No verão não se podem abrir as janelas, não se pode abrir nada”, desabafava Elisete Manata, cuja habitação topa pelo lado do norte, para ainda dizer que, em face da água inquinada do seu poço, “há muito que não faço nada com a água”.
Este problema é velho e já foi levado, várias vezes, pelos proprietários, Amadeu Manata e Maria Dulcínea, não só à câmara de Cantanhede, mas também à delegação de saúde. Sem resultado. Esta última escudou-se com o tribunal. Só se resolveria no Tribunal.
Tremoço em questão
Os proprietários e vizinhos perante esta situação apontam o dedo, sem qualquer temor, aos vizinhos do lado sul, Mário Santos e Rosa Augusta de Conceição Manata, “velha” tremoceira. Aliás, apontam o dente desgostoso à água dos tremoços que dizem, é lançada em fossas, água que depois se infiltrará no terreno a caminho de outros poços, à mistura com o que sobrante vem do uso doméstico e higiénico. Estas pelo menos são as culpas apontadas.
Rosa Augusta “anda a estragar a saúde pública porque vende tremoços que são cortidos com a água do poço que está a dois metros desse tal dito tanque para onde ela esgota as fossas dos seus animais como também das suas casas de banho”, é queixa assinada pelo punho de Maria Dulcínea.
Mas onde é bem notório este escorrimento (esverdeado) é no muro suporte de terras, a sul, infiltrando-se pelos tijolos e até há tijolos partidos que mostram tubos... diz Amadeu Manata. O que prova que o muro em betão construído por Mário Santos, naturalmente com o objectivo de sanar o probleme, não é bastante para obstar esta poluição... a céu aberto ou a olho nú. Está à vista. Entretanto, Amadeu Manata, cercado por esta nascente mal cheirosa, prejuducial ao bem-estar e saúde, na tentativa de dar uma solução ao caso, vai construir, rente ao muro de tijolo, um outro muro de betão, mas não tem a certeza se será dinheiro bem empregue,- “ vamos a ver se não passa por debaixo na mesma” - o que sabe é que “andamos a ganhar no Luxemburgo para enterrar aqui”.
Depois questionam ainda a venda do tremoço, pondo mesmo em causa a sua total salubridade, já que, como os outros poços vizinhos estão inquinados, o de Mário Santos não será excepção à regra. E, assim é que de uma questão de certo modo privada, pode passar a problema público, a inquietação da comunidade.
Águas ácidas?
A água fica de tal modo contaminada que nem serve para regar os campos de milho ou hortas, e para gastos na casa ainda muito menos. “O que nos vale é a água da rede pública”, afirma Maria Dulcínea que reforça as suas preocupações: “o meu poço que está aqui abaixo, a água já cheira mal”.
Quem diz que a água da mina não serve, depois de misturada com a que brota do muro, do lado sul, para regar sequer os campos, é Alcides de Jesus, que fazia a larga propriedade do casal, a poente. “O milho gnhava uma sapata como o arroz”, diz, e por isso, “deixei a terra, porque não me dava nada, por causa do ácido dos tremoços”. E, como a memória lhe não é curta, indica o nome de outro arrendatário que também teve de tomar igual atitude, deixar de fazer a terra. Era da Palhaça e chama-se Nelson Canão.
Tão ácida é a água que, acrescenta, “até estragava os bicos da rega”. O que, tudo junto, só traz prejuizos, arrelias e revolta e pode pôr em risco a saúde pública.
“Eu não as possa beber”
Contactado Mário Santos, este refutou as acusações, dizendo que não tem fossas a correr para o terreno baixo de Amadeu Manata, só que, “quando chove, o terreno é mais baixo, as águas descem”. Quanto ao despejo das águas de cortir ostremoços, confessou que “as águas andam por cima do terreno “do seu quintal, onde. aliás, tem horta que não mostra quaisquer danos, depois, “metem-se pela terra abaixo, eu não as posso beber”. Mas não deixa de reconhecer que se houvesse rede de esgotos, “eu resolveria o problema”. “Agora, que tenha as águas a correr directamente, isso é mentira, o que ele diz é mentira”. Reconheceu que há outros cuas águas também ali vão parar, mas “só eu é que deito”. O que acontece é que o muro de tijolo partiu e facilita os corrimentos, achando que com a construção do muro de betão pelo lado de dentro do muro de tijolo, a levar a cabo pelo cunhado pode pôr cobro à situação que, segundo disse, é do conhecimento da câmara, delegação de saúde e da própria policia. Todos já lá foram, mas nada mais fizeram, reconheceu.
Quanto à Câmara, que conhece o problema, este foi-lhe apresentado na véspera de Páscoa e logo no primeiro dia útil tomou conhecimento da situação, segundo o vice-presidente da Câmara, João Sá, que disse a JB que a edilidade “fará tudo para resolver o problema, dentro do regulamento municipal de defesa do ambiente”, prometendo tomar uma medida administrativa atempadamente.
Armor Pires Mota
(10 Abr / 17:29)
Diário de Aveiro |
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