Sobre a Angola de ontem não vou falar, deixo isso àqueles que a conheceram, que recordem os belos tempos, o belo clima, as belas paisagens, o belo de um país vivo e em saudável crescimento e desenvolvimento… Mas, hoje, pouco resta dessa recordação. Três dias depois de lá chegar, de fazer algumas visitas, depois de dar algumas voltas por Luanda e arredores, de que vou falar, hoje, formei algumas opiniões que vos transmito. Para quem não visitou Luanda nos últimos 25 anos, se agora lá aterrar, sofrerá alguns choques violentos. É comum a falta de água e luz, dificuldades no abastecimento de combustíveis, falta de transportes públicos, falta de serviço de limpeza da cidade, (o lixo acumula-se pelas valetas e bermas da estrada), passeios destruídos, esburacados, barulho ensurdecedor de geradores em cada canto, nos passeios, nas varandas, nas entradas dos prédios, aparelhos de ar condicionado que deixam cair a água de condensação para cima dos transeuntes que passam nos passeios, esgotos a céu aberto, semáforos, que não funcionam, um trânsito calamitoso sem ordem, os prédios sujos sem qualquer manutenção, elevadores que não funcionam, etc, etc… É, na verdade, um aspecto pouco convidativo para os visitantes. No entanto, existem contrastes na Luanda de Hoje. No meio de tudo isto, foram construídos e estão em construção, vários edifícios modernos, com todas as comodidades e todas as tecnologias onde não falta água e luz, prédios novos, elegantes, modernos, que ficariam bem em qualquer cidade europeia, propriedade de grandes multinacionais, ligadas ao petróleo, aos diamantes ou a outras grandes empresas sedeadas em Angola. Também não faltam as grandes superfícies comerciais onde se pode comprar de tudo, lojas recheadas de bens e equipamentos, com toda a gama de electrodomésticos, máquinas e ferramentas, artigos de bricolage, higiene e limpeza, roupas de marca, fast-food, e muito mais. Veículos de transporte podem ser adquiridos nos representantes locais desde o carro mais modesto ao todo-o-terreno mais sofisticado, nada faz falta, com Kuanzas ou com Dólares, pode adquirir facilmente toda a sorte de bens que necessitar. Mas ainda existe um outro lado desta Luanda, que está a alguns quilómetros da Cidade, no Mussulo. O Mussulo tornou-se um oásis com belos empreendimentos turísticos, bungalows de luxo, barcos de recreio, belas praias, com todas as comodidades, onde passar o fim-de-semana é absolutamente paradisíaco, fazendo esquecer o dia a dia da cidade. Em frente à ilha do Mussulo e, a caminho da Barra do Kuanza, depois do Futungo de Belas, passando o Morro dos Veados, pode ainda avistar-se uma outra face de Luanda, a já conhecida Luanda Sul ou a Nova Luanda como lhe chamei. Uma enorme área onde foram delimitados diversos condomínios e onde estão a ser construídas casas de luxo, talvez já, mais de mil casas em construção e muitas delas habitadas. Bons acessos, água, luz (gerador), infra estruturas básicas, segurança privada, serviço de limpeza, tudo organizado e funcional que deixa prever uma lenta mudança da capital, ou alargamento da existente, já que irá ser muito difícil reconstruir a bela e saudosa Luanda de outros tempos. Mas há coisas que não mudaram. No meio de toda esta diversidade, de mão dada com o lixo e o mau cheiro, com todos os contrastes sociais e económicos, continuamos a ter o belo clima e a encantadora paisagem natural, que deixa qualquer pessoa apaixonada por este imenso e grande País onde muitos poetas se inspiraram.
Carlos Grangeia
Diário de Aveiro |