AVEIRO RECUA 40 ANOS PARA LEMBRAR CONGRESSO

Fez este ano 40 anos, em Abril, que Álvaro Seiça Neves abriu o terceiro Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, lendo o telegrama enviado por Ruy Luís Gomes, presidente do evento, exilado no Brasil. Foi “uma grande jornada de luta antifascista”, recorda António Neto Brandão, um dos nove membros da comissão executiva e um dos participantes do colóquio que hoje se realiza para evocar essa iniciativa.
Além de Neto Brandão, primeiro governador civil do distrito em democracia, outras figuras históricas dessa época marcam presença no evento, como Flávio Sardo, presidente da comissão administrativa da Câmara de Aveiro após o 25 de Abril, José Tengarrinha, fundador do MDP/CDE, Pedro Coelho, um dos fundadores do PS, ou Vítor Dias, do PCP, que um dia escreveu que o congresso “constituiu, a muitos títulos e por variadas razões, um importante êxito da luta antifascista em Portugal”.
O terceiro congresso – que sucedeu aos de 1958 e de 1969, também em Aveiro – realizou-se no Cine-Teatro Avenida em plena Primavera marcelista. Ficou marcado pela carga policial aos manifestantes que se dirigiam para a campa de Mário Sacramento, para uma homenagem simbólica a este lutador anti-fascista natural de Ílhavo.
Os objectivos do encontro, que durou quatro dias, eram a “elaboração de um diagnóstico crítico da realidade portuguesa”, “a dinamização da actividade democrática” e a “definição das linhas gerais de actuação democrática”.
Além de Seiça Neves, a comissão executiva foi constituída por Neto Brandão, António Regala, Carlos Candal, Flávio Sardo, João Sarabando,Joaquim da Silveira, Manuel Andrade e Mário Rodrigues.
O colóquio de hoje (a partir das 9 horas, no ISCA) é organizado pelo movimento cívico Não Apaguem a Memória (NAM), que quer uma reflexão sobre a situação política de então e sobre o momento actual em Portugal. O objectivo, disse a presidente do NAM, Helena Pato, à Lusa, é recordar um “momento de grande significado” no tempo da ditadura salazarista.
O III Congresso da Oposição Democrática foi “um ponto de viragem na política nacional, quer no que respeita à política da ditadura quer no que respeita à estratégia da oposição”, recorda.
“A oposição tinha estado dividida até essa altura e esse é o momento da convergência das várias correntes ideológicas, políticas, democráticas”, realça, lembrando que, em 1969, data do II Congresso Republicano, a oposição tinha falhado o objectivo da união, mas às eleições legislativas de Outubro de 1973 já concorre com uma lista única.
O encontro de 1973 “catapultou os movimentos democráticos para o próprio 25 de Abril”, destaca Helena Pato. O envolvimento de futuros capitães de Abril nos trabalhos de preparação do congresso e no próprio congresso possibilitou uma “tomada de consciência política que talvez não tivessem até aí”, realça.
O programa do colóquio terá três momentos: um primeiro feito de testemunhos de participantes no III Congresso, um segundo em que historiadores, como Pacheco Pereira, Fernando Rosas e Reis Torgal, vão analisar o significado do acontecimento, e um último com intervenções de personalidades como Carvalho da Silva, Pedro Adão e Silva, Frei Bento Domingues, Tatiana Moutinho e Rui Tavares. A sessão de abertura inclui o presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, e o reitor da Universidade de Aveiro, Manuel Assunção.


Diário de Aveiro


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