A 10ª Conferência Nacional de Ambiente e o XII Congresso Nacional de Engenharia de Ambiente terminaram com o apelo à manutenção das políticas de desenvolvimento sustentável.
Carlos Borrego, diretor do departamento de ambiente e ordenamento da Universidade de Aveiro, que acolheu estes encontros, chamou a atenção para as consequências das alterações climáticas, nomeadamente o aumento da temperatura e do risco de seca, o aumento da precipitação no inverno, e subida do mar, pelo que “as alterações climáticas são ameaças aos cidadãos” e “os eventos extremos vão ser dramáticos”, mas também são oportunidades pelas novas respostas para as mitigar e os co-benefícios dessa mitigação, incluindo em termos de saúde pública.
A investigação em curso pode propor várias alternativas para os decisores políticos escolherem, desde a escala global até à escala local. Numa escala local, infraestruturas verdes (parques, zonas verdes e outras) e azuis (ribeiros e lagos) são essências para as cidades reduzirem o aumento da temperatura e das alterações climáticas.
Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, sublinhou que a temperatura média global estabilizou após uma subida muito forte na década de 1970, ao contrário das emissões de gases com efeito estufa que continuam a subir.
No entanto, alertou que os oceanos absorvem cerca de 90% da temperatura, enquanto a atmosfera absorve somente cerca de 10%, o que se reflete na subida do nível média do mar, subida muito variável à escala global, ainda que seja “bastante preocupante para Portugal”.
Nos países europeus que ratificaram o Protocolo de Quioto houve uma redução de pouco mais de 7% das emissões, não só devido à crise económica, mas porque a “Europa fez uma aposta muito forte nas energias renováveis”, disse Filipe Duarte Santos.
Dezenas de oradores passaram pelos diferentes painéis salientando que o país “fez um trabalho excecional” e que foi possível mudar o país em 30 anos, segundo declaração de Pedro Santos, presidente da Associação Portuguesa de Engenharia do Ambiente.
Nuno Lacasta, presidente do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente, orador convidado da primeira sessão plenária, considerou que as boas mudanças no ambiente também são fruto da formação das universidades nesse sector, reconhecendo, no entanto, que “é inevitável repensar as políticas públicas”.
Apesar de reconhecer que ainda “há muito por fazer”, e aproveitando o tema da 10.ª CNA, “Repensar o Ambiente: Luxo ou Inevitabilidade”, prosseguiu, dizendo que “não nos podemos dar ao luxo de regredirmos em termos de ambiente”, para o tempo das lixeiras, dos rios poluídos e das cidades com poluição, tanto mais que esse patamar de excelência é também de qualidade de vida.
O responsável pela APA alertou para o facto de sermos “uma sociedade de capelinhas” que não tem modelos integrados de gestão. “Somos um país de burocratas”, em que “as administrações não têm consciência que decidir fora de tempo é não decidir” e que o “Estado português tem um peso muito grande na economia”. “Muitas das diretrizes europeias o ambiente são desadequadas a Portugal”, referiu Nuno Lacasta, que defendeu também que Portugal deve parar em fazer mais legislação, porque a que existe é suficiente, e deve regulamentar o que já está legislado em termos de ambiente.
O presidente da APA considerou que “o principal problema do país é o ordenamento do território”. “Temos graves problemas ambientais pela urbanização na envolvente de zonas industriais”. Propôs a criação de “condomínios” especializados por sectores industriais, de modo a se rentabilizar estruturas (como ETAR e outras). “Em termos de ambiente “devemos priorizar competências, porque não podemos ir a todas”, sublinha Nuno Lacasta. Diário de Aveiro |