O analista criminal José Barra da Costa garante ter descoberto a quem pertence a principal impressão digital recolhida no local do último crime do estripador de Lisboa, que, durante os anos 90, assassinou três prostitutas. A revelação resulta da tese de Doutoramento em Psicologia realizada na Universidade de Aveiro (UA) sob o tema “O Perfil em Homicídios Múltiplos: O Caso do Estripador de Lisboa”. Sem revelar a identidade do assassino, Barra da Costa afirma que o estripador está vivo, mora perto de um dos locais onde matou uma das vítimas e que, provavelmente, não voltará a matar. Os crimes do estripador de Lisboa, cujo perfil é escrutinado ao pormenor pelo trabalho do antigo inspector-chefe da Polícia Judiciária (PJ), já prescreveram, motivo pelo qual não poderá ser preso. “O Perfil em Homicídios Múltiplos: O Caso do Estripador de Lisboa” começa por descrever ao pormenor o perfil do assassino. Barra da Costa revela que se trata de um indivíduo do “sexo masculino, branco, na altura com 30-35 anos, reservado, revelando sentimentos profundos de raiva, ódio e rancor direccionados para as mulheres, em especial aquelas que recaiam no seu tipo ideal de vítima, desenvolvidos durante anos, no decorrer dos quais foi criando e aperfeiçoando as suas fantasias”. A investigação estima que o estripador, que fez três vítimas em 1992 e 1993, é de média-baixa condição sócio-económica e possui um coeficiente de inteligência dentro da média, argumentando o autor que “a sua solidão se encontra relacionada com sentimentos de inadequação que ele próprio sente perante si mesmo”. Segundo o profiler criminal Barra da Costa, o assassino, “desconfiado, impulsivo e agressivo, sem capacidade para sentir qualquer empatia, impermeável aos sentimentos e à dor dos outros”, revela ainda que “a sua crueldade, visível na forma como cometeu os crimes, é própria de alguém frio e indiferente”. Com um perfil “meio atípico”, o estripador de Lisboa não retirou daquele tipo de crime algo que se prendesse essencialmente com a sua sexualidade. “Ele torturou, causou terror, dor, mas não retirou disso prazer, pois não houve sequer relação sexual com as vítimas”, desvenda Barra da Costa. O trabalho de doutoramento do analista criminal teve orientação de Carlos Fernandes, docente do Departamento de Educação da UA, e dele resultou o livro “Perfis Psicocriminais - Do Estripador de Lisboa ao Profiler”, que conta com o prefácio da procuradora-geral adjunta Maria José Morgado. “Matar não satisfazia as suas necessidades, que eram de carácter compulsivo e por elas ele via-se forçado a ir para além do homicídio, para pôr em prática as suas fantasias de cariz sexual”, aponta o autor. No trabalho de Doutoramento, Barra da Costa aponta que o prazer sexual do estripador “vem do domínio sobre a pessoa e de poder estripá-la, sempre viva”. Barra da Costa garante que ele “não era sádico, porque tornava as vítimas inconscientes e nessa fase ainda produzia o estripamento, um ritual que é a sua assinatura, levando depois órgãos, os troféus”. “É o que chamamos um assassino por luxúria, hedonista”, conclui. Já depois da defesa da tese, revela o investigador, “foi possível fazer um trabalho inverso e identificar o detentor de uma impressão digital recolhida no local, impressão muito provavelmente pertencente ao estripador de Lisboa, decorrendo agora diligências tendentes a dar validade ao perfil em termos do estudo da personalidade do identificado”. A existência desta impressão digital, descoberta numa caixa de cartão junto ao local do último crime, e que Barra da Costa descobriu durante a recente consulta ao processo do estripador de Lisboa, permitiu-lhe identificar o assassino depois de ter encontrado alguém que encaixava no perfil traçado. Limitou-se depois a dar-lhe um copo com água, comparar as impressões digitais com a impressão digital no processo e… “bingo!”. Barra da Costa argumenta que o suspeito em causa, que não pode ser julgado porque os crimes prescreveram, não voltará a atacar, já que algumas das suas características, como a idade e condição física, mudaram. Se os conhecimentos da psicologia forense, como eles hoje existem, estivessem disponíveis há 20 anos, a investigação teria avançado mais do que avançou? À pergunta que serviu de mote ao trabalho de investigação que Barra da Costa desenvolveu na UA o analista responde afirmativamente. A investigação da PJ, garante Barra da Costa, “não avançou tanto como devia porque houve falhas, a principal das quais de ordem técnica, uma vez que não havia ainda condições para analisar todos os elementos, nomeadamente biológicos”. O trabalho de Doutoramento conclui ainda que, “em resultado da entrada em vigor, uns anos antes, de um novo Código de Processo Penal, o Ministério Público (MP) acabou por invadir e ocupar até hoje a PJ e assim transformar os investigadores da PJ em escriturários”. Barra da Costa diz que, a partir dessa altura, “os processos-crime passaram a andar de mão-em-mão e por mãos indevidas, até que o MP os engavetou, evitando assim, por incompetência estrutural, que eles se mantivessem na PJ, onde poderiam ser consultados e comparados em permanência”. Diário de Aveiro |