Um indigente invisual, de 52 anos, confirmou, ontem, em tribunal, ter sido sequestrado e escravizado por um casal de vendedores ambulantes, acusado de ter elaborado um plano para o colocar a pedir esmolas em feiras, agredindo-o violentamente com frequência.
Manuel (nome fictício) recordou, ao colectivo de juízes, o terror por que diz ter passado no Verão de 2007 nas mãos dos dois arguidos, actualmente, com 30 e 22 anos.
Contou que, em Agosto, “estava a pedir esmolas” numa festa popular nos Carvalhos quando foi abordado pela mulher, na altura, com 16 anos, que lhe perguntou se “queria ir com eles”. Ao dar uma resposta negativa, disse ter sido levado à força para o interior de uma carrinha e, durante um mês, andou “a pedir com eles”, sempre vigiado.
“Eles ameaçavam-me e, ao final do dia, tiravam-me a caixa com o dinheiro. Batiam-me todos os dias com um chicote e às vezes com murros”, contou.
Ainda segundo a versão da vítima, Clara Carvalho e o companheiro, João Machado, mantinham-no como prisioneiro no apartamento em que residiam, situado num bairro do Porto. “Uma vez, tentei fugir e a Clara deu-me uma estalada”, referiu.
O caso foi descoberto em Setembro seguinte, quando, alertada por testemunhas que o viram ser agredido, em Espinho, a PSP socorreu o homem.
A defesa está, no entanto, convicta de que Manuel, que grande parte da sua vida foi vítima de extorsão, está a confundir esta situação com outras anteriormente vividas. As lesões detectadas em perícias teriam, assim, resultado de agressões ocorridas antes da data dos factos que estão a ser julgados.
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