Diário de Aveiro: Está a terminar o seu quarto e, forçosamente, último mandato como presidente da Câmara de Anadia. Se a lei o permitisse, voltava a candidatar-se?
Litério Marques: Eu sou contra a limitação de mandatos. Acho que esta lei é precisamente aquilo que de mais errado temos em democracia. O povo é que escolhe. Porque é que havemos de ter agora uns senhores – não tão directamente escolhidos pelo povo quanto um presidente de câmara, ou um presidente de junta de freguesia – que vêm legislar desta maneira? E porque não fazerem-no de forma abrangente, em que eles próprios também fossem incluídos nessa limitação de mandatos?
Portanto, esta limitação não devia ser apenas para as autarquias?
De maneira nenhuma.
Mas se pudesse recandidatar-se, fazia-o?
Mesmo se pudesse, não me recandidatava, a não ser que razões de força maior me obrigassem a isso. Aliás, é o que está a acontecer agora, uma vez que irei fazer parte das listas do movimento independente.
Porque é que decidiu promover uma lista independente?
A primeira razão prende-se, precisamente, com o facto de não concordar com esta limitação de mandatos. Se o que está em causa é a questão da corrupção, não se pode generalizar, pois a corrupção só se verifica quando de facto acontece. Além do mais, ninguém nos garante que outras pessoas que venham a ser escolhidas para as autarquias não estejam sujeitas ou tenham alguma tendência para a corrupção.
A segunda razão prende-se com o facto de não ter sido ouvido pelo PSD para a escolha dos candidatos aqui em Anadia. Sempre vesti a camisola do partido e, depois de ter comunicado ao secretário-geral do PSD, presidente da Comissão Politica Nacional, e ao presidente da comissão distrital do PSD, que estava disponível para ajudar na escolha dos próximos candidatos, nem sequer obtive resposta. Uma pessoa que trabalha tantos anos para o partido nem sequer merece uma resposta? E acabaram por fazer o mais disparatado possível. Vieram a público anunciar que tinha sido eleito o candidato do PSD à Câmara de Anadia por unanimidade e aclamação. De quem? Um por cento, três por cento dos eleitores deste concelho.
Sentiu, de alguma forma, que tinha uma vaga de apoiantes atrás de si, dispostos a assumirem uma candidatura alternativa?
Claro. Este movimento não foi apenas ideia minha. Eu tenho tanto para fazer fora daqui, ainda sou homem para viver uns anos e tenho uma reforma que me dá para viver livremente. Estar numa Câmara como a de Anadia exige muito trabalho.
Mas tive muita gente que, de forma espontânea, assumiu a vontade de avançar com uma candidatura. É curioso ver que, no concelho de Anadia, alguns partidos têm dificuldades em conseguir pessoas para as suas listas, enquanto nós não temos tido qualquer problema em reunir candidatos. Para o movimento, o que está em causa é o desenvolvimento do concelho.
Quem poderá ser o candidato à presidência da Câmara?
Nós não andamos a trabalhar para satisfazer a curiosidade jornalística e do público em geral. Temos respeito pelos candidatos que vamos tentando mobilizar para o nosso lado e, portanto, não queremos precipitar-nos. Temos várias pessoas propostas tanto para a Câmara como para a Assembleia e, quanto a mim, todas reúnem condições para exercer esses cargos.
Mas as pessoas que têm estado consigo na Câmara e nas juntas vão candidatar-se pelo movimento e deixar as listas do PSD?
Já estão. As pessoas optaram por associar-se ao movimento porque acreditam em nós. O movimento não sou apenas eu, somos um todo. Litério Marques só deu a cara pelo movimento.
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