Bispo do Porto considera que resignação
é reveladora de um testemunho de sabedoria
O bispo do Porto, Manuel Clemente, considerou hoje que a decisão do papa “é reveladora de um testemunho de sabedoria, de coragem e de verdade com que Bento XVI assumiu as funções tão difíceis de sucessor de Pedro”. Em entrevista à Rádio Renascença (RR), Manuel Clemente disse encarar a resignação do papa como “um testemunho de coragem e de verdade”.
O bispo do Porto admitiu à RR que “não estava minimamente preparado” para receber a notícia da resignação. Manuel Clemente afirmou ainda ter estado com Bento XVI no sínodo dos bispos, em Outubro, recordando-se de um papa com evidente fraqueza física, mas capaz do ponto de vista mental. Numa declaração à Lusa, em 21 de Abril de 2010, a propósito da visita que Bento XVI viria a fazer ao Porto em 14 de maio seguinte, o bispo Manuel Clemente destacou a "serenidade filosófica e racional" do papa. "O que eu aprecio no actual Papa - e isto tem sido apreciado mais por sectores exteriores à Igreja do que por sectores internos - é a serenidade filosófica e racional com que ele encara os problemas", afirmou então. "Nós”, sublinhou, somos mais pós-modernos, mais saltitantes, mais emotivos, mais apanhados pelo pormenor, quase diria, e perdemos um tanto a noção do conjunto".
Vítor Melícias: renúncia "profética" de Bento XVI
deverá ser seguida pelos próximos
O Padre Vítor Melícias saudou hoje a “profética” decisão de Bento XVI, sublinhando que a resignação deverá ser equacionada pelos próximos papas enquanto estão fisicamente capazes, já que esta é uma das funções "mais exigentes do mundo". O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) contou à Lusa que foi “apanhado de surpresa” com o anúncio do Papa Bento XVI de resignar a partir dia 28 de Fevereiro, devido à idade avançada. “Não estava minimamente à espera, embora considere uma atitude corajosa, lúcida e de certo modo profética deste Papa, uma vez que, na história, tinha havido apenas um caso”, disse em declarações à Lusa, o padre Vítor Melícias.
Para o responsável português, este caso de renúncia "inédito e inesperado" é "extremamente positivo", já que "valoriza a função de Papa enquanto ministério e serviço, independentemente da pessoa que esteja a ser titular". Vítor Melícia acredita que a atitude de Ratzinger poderá traçar "novos caminhos para o futuro", ao tornar mais vulgar o abandono do cargo por parte dos responsáveis da igreja. Recordou os últimos tempos do papado de João Paulo II, para explicar que a decisão de os papas renunciarem ao cargo já tinha sido equacionada: “Já tínhamos sido todos confrontados com esta possibilidade durante a doença da parte final do grande Papa João Paulo II. As pessoas interrogavam-se se não seria mais positivo o Papa renunciar", recordou, considerando que a decisão de Ratzinger vem "valorizar o serviço" e mostrar que esta função, que é "das mais exigentes do mundo", deve ser assumida enquanto não houver "limitações de idade, de saúde, ou situações concretas". “É de louvar esta capacidade profética de um homem que se mostrou uma vez mais inteligente, determinado e consciente da realidade das coisas”, sublinhou Vítor Melícias, comparando o pontificado de João Paulo II, que se impôs "pela sua capacidade de comunicador e de grande determinação", ao de Raztinger que se impôs "pela sua inteligência e conhecimento de teólogo".
Sobre a eventual escolha de um Papa Português, Vítor Melícias disse que “tudo é possível”, basta ser Cardeal e ter menos de 80 anos. Para o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, agora poderia ser escolhido para presidente das igrejas universais um homem de Africa, América Latina ou Asia. “Não é a Europa e Roma apenas que podem ser fontes de onde surjam os papas”
Bispo de Viseu: Anúncio de resignação
foi acto de coragem e de fé
O bispo de Viseu, Ilídio Leandro, considerou que o anúncio da resignação feito hoje pelo papa Bento XVI foi "um acto de coragem e de fé”. “De coragem, porque era necessário vencer toda uma tradição que não aponta para ser normal um ato destes”, justificou Ilídio Leandro, em declarações à agência Lusa. Na opinião do prelado, foi também um ato “de muita fé, porque vê-se que tomou esta atitude por amor à Igreja e por sentir que as suas forças já não permitiam conduzir a barca de Pedro (a Igreja) nos momentos e nas circunstâncias em que é necessário vigor, determinação, firmeza e aquela presença que, pela doença, já não poderia ter”.
Neste âmbito, e apesar de admitir ter ficado surpreendido, o bispo de Viseu afirmou que este anúncio o enche “de alegria e de confiança de que o espírito santo conduz e orienta a Igreja”. Ilídio Leandro disse que o pontificado do papa Bento XVI durante estes quase oito anos foi para si “uma surpresa pela clareza que imprimiu à vida da Igreja”. “Depois do papa João Paulo II, penso que era necessária uma reflexão profunda sobre os aspectos fundamentais da teologia e da vida interna da Igreja”, explicou.
No seu entender, Bento XVI, “nas encíclicas que escreveu, numa linguagem muito clara mas muito a trazer ao de cima os aspectos fundamentais da fé cristã e das virtudes fundamentais do cristianismo, relevou uma capacidade que, à partida, poderia não supor-se num homem que esteve tantos anos à frente da Congregação para a Doutrina da Fé”. O bispo de Viseu sublinhou também a “firmeza quando à tomada de posição e às permanentes alusões, com pedidos de desculpa”, relativamente à polémica da pedofilia. O “reflectir os valores, as virtudes inerentes à mensagem cristã com as encíclicas, muitos discursos e muitas tomadas de posição”, e “a firmeza com que enfrentou questões morais”, como a pedofilia, são os dois aspectos que considera mais marcantes do pontificado.
Manuel Morujão: resignação é "decisão corajosa
e de grande lucidez"
O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, encarou como uma decisão corajosa e de grande lucidez a resignação de Bento XVI, por motivos de idade e falta de forças. “É uma grande excepção na história do papado da igreja”, disse à agência Lusa o representante da Conferência Episcopal. Para Manuel Morujão, a atitude do papa revela a coragem e lucidez de “alguém que reconhece que o melhor serviço que pode prestar à igreja é passar o testemunho” ao papa seguinte, a “alguém mais jovem”.
Para suceder a Bento XVI, o mais natural, segundo Morujão, é os cardeais escolherem um cardeal que esteja no Conclave.
A partir do dia 28, as funções do papa deverão ser assumidas por um cardeal camarelengo (substituto), com toda a responsabilidade que tem como acontece quando um papa morre, explicou. “Tem a responsabilidade de governar a Igreja na ausência do papa”, referiu. Este cardeal convocará “em tempo oportuno” o novo Conclave, ou seja, a reunião dos cardeais com menos de 80 anos, para encontrar o sucessor de Bento XVI.
Manuel Morujão recordou que Bento XVI havia já admitido a possibilidade de um papa resignar por falta de forças, em entrevista a um jornalista alemão que deu origem a um livro – “A Luz do Mundo”.
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