Armando Vara, arguido no processo Face Oculta, saiu hoje às 20:00 do Juízo de Instrução Criminal de Aveiro acompanhado dos seus advogados, para uma pausa de "hora e meia", tendo garantido aos jornalistas que não cometeu "nenhum crime". O ex-ministro socialista Armando Vara tinha entrado hoje às 14:52 no Juízo de Instrução Criminal de Aveiro, mas ainda não prestou declarações às autoridades judiciais, pois tem estado a consultar o processo, conforme o próprio referiu. O arguido disse, também, "ter dificuldades em falar sobre um processo que está em segredo de Justiça", acrescentando: "Não queria contribuir para que este espectáculo degradante que se está a dar sobre a nossa Justiça continue".
"Não cometi nenhum crime e isso ficará provado em tribunal", garantiu Armando Vara, que estava acompanhado dos seus advogados, Tiago Rodrigues Bastos e Godinho de Matos.
Segundo fonte judicial, Armando Vara, à semelhança do presidente da REN-Redes Eléctricas Nacionais, José Penedos, e o filho deste último, Paulo Penedos, é apontado pelos investigadores como integrando uma "rede tentacular" criada pelo principal arguido, o empresário Manuel José Godinho, administrador de diversas empresas de recolha, armazenagem, triagem e tratamento de resíduos/sucatas que prestam serviços a empresas com ligações ao Estado, como a REN e a REFER-Rede Ferroviária Nacional.
Para os investigadores, adianta a fonte, a execução do plano alegadamente delituoso de Manuel Godinho, que está em prisão preventiva, passaria pelos membros dessa "rede tentacular", os quais, a troco de vantagens patrimoniais e/ou não patrimoniais, favoreciam ou exerciam a sua influência junto de titulares de cargos governativos e/ou políticos, titulares de cargos de direcção ou de pessoas com capacidade de decidir ou com acesso a informação privilegiada, no sentido de beneficiar as empresas do empresário de Ovar.
Segundo a mesma fonte judicial, os investigadores alegam que na manhã de 25 de Maio de 2009 Manuel Godinho encontrou-se com Armando Vara no seu gabinete no edifício do Millenium/BCP, na Avenida José Malhoa, Lisboa, onde lhe entregou os 10 mil euros que Vara alegadamente havia solicitado para interceder a favor do empresário de Ovar.
Durante a investigação do processo Face Oculta, Armando Vara foi um dos arguidos alvo de escutas telefónicas, tendo as suas conversas com o primeiro-ministro, José Sócrates, suscitado acesa polémica judicial sobre a validade das mesmas, tendo as primeiras seis escutas de conversas entre ambos sido declaradas nulas pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento.
No decurso da operação Face Oculta, 15 pessoas foram constituídas arguidas, incluindo Armando Vara, vice-presidente do BCP, que suspendeu funções, José Penedos, presidente da REN, e o seu filho Paulo Penedos, advogado da empresa SCI, de Manuel Godinho. O processo Face Oculta investiga alegados casos de corrupção e outros crimes económicos relacionados com empresas do sector empresarial do Estado e empresas privadas.
Fonte: JN. Diário de Aveiro |