O ilhavense Luís Miguel Loureiro, jornalista da RTP, vem hoje a Aveiro proferir a palestra “Os novos desafios do jornalismo - o jornalismo sob ameaça” (18.30 horas, ISCIA). “O futuro é sombrio”, avisa
Que ameaças são essas de que fala o título da palestra?
O jornalismo sempre viveu sob ameaça. O simples facto de, historicamente, se caracterizar como actividade de mediação, que produz representações do real, coloca-o debaixo de fogo. Essas representações, que visam a busca da verdade dos factos e da verdade que sob os factos se oculta, colocam o jornalismo no centro de grandes disputas de interesses. Hoje o jornalismo está no centro nevrálgico da administração do visível.
Como assim?
Toda a representação é feita para ser vista. Aos interesses em jogo interessa sempre dominar esse processo de produção das representações, para dominar e controlar a própria visibilidade. Sempre foi assim, sempre será enquanto houver verdadeiros jornalistas e verdadeiro jornalismo. Só que o tempo que vivemos ameaça esta actividade de mediação: aos jornalistas tem vindo a ser retirado o tempo para produzirem, de forma reflectida, as representações do real, aproximando-as o mais possível desse real. Os constrangimentos são vários, mas sabemos que todos se relacionam com a sobreposição de modelos de negócio que tendem a reduzir o jornalismo a uma mera actividade comunicacional destinada a dar lucro e a conseguir audiências. Muitas vezes, os jornalistas que restam já não têm tempo e, se o tiverem, tornam-se caros e são despedidos ou dispensados. Os poucos que sobram surgem transformados em meros elos da cadeia da comunicação, limitando-se a carregar e lançar na cadeia representações já trabalhadas por estruturas profissionais, pelas assessorias, pelas agências... Tolhidos pela máquina que os embarateceu e precarizou, os jornalistas tornam-se meros gestores da visibilidade de quem manda na cadeia e, por isso, reduzidos ao processo automático de produção de mensagens rápidas, já pré-feitas. É a democracia que é posta em causa.
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