Os azares começaram a ameaçar o navio “Milena” assim que saiu da barra de Aveiro para se fazer ao mar em mais uma campanha da pesca do bacalhau. Corria o ano de 1948 e a bordo daquele lugre de quatro mastros, entre todos os tripulantes, seguia o ilhavense Armindo Bagão da Silva, na altura um jovem de 15 anos, que cumpria a sua segunda viagem à pesca do bacalhau. Foi uma campanha atribulada, marcada por várias desventuras, que Armindo Bagão da Silva, actualmente com 80 anos, e a residir no Canadá, decidiu passar para o papel. A obra “Milena-1948, Memórias de uma Campanha” é lançada no próximo sábado, pelas 16 horas, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Salvador.
“Este é um relato de alguém que esteve a viver tudo por dentro e a participar activamente nas tarefas de bordo”, destaca João Bagão Silva, sobrinho do autor deste livro onde não faltam aventuras para contar. “Aconteceu de tudo um pouco, desde um temporal em que uma vaga levou cinco para fora de borda e foi o próprio mar que voltou a levá-los para dentro do navio. Infelizmente, só voltaram quatro. Perdeu-se um tripulante”, relata João Bagão Silva, a propósito dos episódios que surgem retratados neste livro que é editado pelo jornal “O Ilhavense”.
Para o sobrinho do autor, é “lícito estabelecer-se um vínculo de complementaridade entre este testemunho de Armindo Bagão da Silva e “A Campanha do Argus”, de Alan Villiers – obra canónica sobre a pesca à linha do bacalhau, no contexto da apelidada white fleet”. “Passo a explicar: é que se naquela magnificente obra somos brindados com uma descrição apaixonada, embora toldada por parâmetros de rigor e de erudição, do que era a vida a bordo de um lugre – registada por alguém que tem uma visão ‘externa’ de um momento muito particular da nossa história marítima –, Armindo Bagão da Silva, por seu turno, oferece-nos uma viagem ao interior da viagem – passe o pleonasmo – num relato em que é simultaneamente narrador e protagonista”, escreve João Bagão Silva no prefácio de “Milena-1948, Memórias de uma Campanha”.
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