UA ANALISA ADESÃO AO PROGRAMA DE RASTREIO DO CANCRO DA MAMA.

Porque é que apenas 50 por cento das mulheres do Concelho de Aveiro aderem ao Programa de Rastreio do Cancro da Mama (PRCM)?

Foi para responder a esta e a outras questões sobre a adesão ao Programa que quer prevenir antes de remediar que Célia Freitas, investigadora da Universidade de Aveiro (UA), chamou a si a missão de caracterizar os porquês que determinam a adesão ou não das mulheres de Aveiro ao PRCM.

Intitulado "Rastreio do Cancro da Mama no Concelho de Aveiro: do estudo dos factores determinantes da adesão às propostas educativas emergentes", o trabalho pretende dar aos profissionais envolvidos no PRCM algumas pistas para que as actuais taxas de adesão na respetiva área de abrangência possam caminhar até aos 70 por cento apontados pela Comissão Europeia. "Este estudo apresenta particular ênfase na recomendação dos profissionais de saúde como predominante para o comportamento de adesão ao programa rastreio do cancro da mama", refere Célia Freitas. Todavia, aponta a investigadora, "devido a algum desconhecimento sobre o funcionamento do programa, encaminham as suas utentes para o radiologista privado quando existe um programa gratuito e de elevada qualidade".

Esta situação, conclui o estudo que abrangeu 805 mulheres, entre os 45 e os 69 anos, residentes no Concelho de Aveiro, "reflecte alguma falta de articulação entre os serviços de saúde público-privados e o precário envolvimento dos profissionais de saúde neste programa". A investigadora diz que esse cenário existe "talvez devido à maior responsabilização da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) pela sua organização e operacionalização no terreno, devendo as unidades de saúde apresentar estratégias no seu Plano de Ação a fim de promover o PRCM".

Para além dos fatores relacionados com o próprio sistema de cuidados de saúde, existem também questões de ordem individual que bloqueiam a adesão das mulheres do Concelho de Aveiro ao PRCM. É o caso das crenças individuais que estão relacionadas, por exemplo, com "a fiabilidade do exame realizado na unidade móvel junto do centro de saúde, a sobrevalorização da ecografia mamária, o desleixo com a própria saúde, os exames preventivos, o esquecimento e a falta de tempo". Acrescido a estes factores, aponta Célia Freitas, "as mulheres que não frequentam os centros de saúde, ainda referem ser pouco prático o resultado do exame ser enviado para o médico de família, o que lhes impossibilita mostrar ao médico que costumam consultar". O medo da detecção da doença e a dor ou o desconforto que o exame provoca nas mulheres são outros dos factores que o estudo conclui estarem a contribuir para a não adesão ao PRCM.

"O comportamento individual é influenciado por vários factores de natureza ambiental, que podem facilitar ou limitar o acesso aos cuidados de saúde", conclui Célia Freitas. Desta forma, avança a investigadora, "seria importante que a promoção deste programa [PRCM] fosse abordada numa perspectiva de colaboração entre os serviços públicos e privados de forma a garantir a saúde das populações que servem".

Convocar as mulheres para o rastreio utilizando formas mais personalizadas, formação e actualização dos profissionais de saúde no âmbito do rastreio, promoção de uma articulação mais efectiva entre a LPCC e o centro de saúde e a criação de uma cal centre no Centro de Saúde de Aveiro e na LPCC são algumas das medidas apontadas pela investigadora no sentido de aumentar as taxas de adesão ao PRCM.

O estudo de Célia Freitas, realizado no contexto da sua tese de doutoramento no âmbito da Didáctica e Formação, teve como orientadora Nilza Maria Vilhena Nunes da Costa, do Departamento de Educação da UA, e como coorientador Luiz Fernando Rangel Tura, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Diário de Aveiro


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