Hoje é dia de procissão pela areia com bênção do mar nas Festas em honra do Senhor e da Senhora da Piedade do Furadouro. Dá-se expressão à fé transportada ao ombro - com imagens religiosas densamente enfeitadas com pétalas e perfume de flores - por entre uma gigantesca massa humana em pleno areal da praia.
A romaria esteve, mais uma vez, para não acontecer. Uma reunião de última hora dos Amigos dos Furadouro elegeu Angela Liz para presidente e esta pôs de imediato mãos à obra. “Sabemos o que significam as Festas do Mar para a nossa gente”, diz ela, acrescentando que “se não fossem as festas, o verão acabava logo em Agosto”, mas assim consegue-se esticá-lo mais uns dias.
A programação deste ano apostou basicamente na componente religiosa, “porque a crise é grande e não podíamos entrar em loucuras”, explica. Os andores que hoje descem ao areal na procissão surgem sempre profusamente engalanados. Angela diz que “cada andor daqueles fica bastante caro, mas é tudo pago por pessoas da cidade de Ovar que têm promessas antigas”. Ninguém sabe quem são. “E as flores têm que ser das boas para aguentarem estes dias”, acrescenta.
Faz-se a bênção ao mar. Este ano, foi como se os Senhores da Piedade tivessem ouvido as preces das gentes do Furadouro. O areal que quase tinha desaparecido, este ano, surgiu menos magro, o habitualmente Agosto ventoso cedeu o seu lugar a sopros de brisa e temperaturas muito agradáveis, a água gelada parece que aqueceu...
Por isso, há mais motivos para que haja ambiente de festa nesta que já foi uma aldeia piscatória ancestral, recuperando as companhas que trabalham no mar, a trazerem o peixe para a areia, a mostrarem a xávega aos turistas e aos mais novos que nem sabiam o que isso era. É tempo dos locais mostrarem as suas arreigadas tradições pesqueiras, apresentando os barcos típicos e as redes, que nesta altura enfeitam a costa. Enfeitarem as ruas com pétalas de flores.
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