Prestes a comemorar o seu 75.º aniversário, o Museu Marítimo de Ílhavo está cada vez mais de olhos postos no futuro. A partir de Outubro, entra numa nova fase da sua vida, tal como destacou Álvaro Garrido, da Direcção do museu, em entrevista ao Diário de Aveiro
O Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) está a comemorar 75 anos de existência. É já uma vida longa…
É uma vida longa e não existem muitos museus que consigam celebrar 75 anos sem interrupções. O MMI nasceu em 1937 e até podemos dizer que ele, não oficialmente, até nasceu bem antes, na medida em que a ideia de museu e o projecto de um museu dos ílhavos começa a ser elaborado no princípio dos anos 20. Sofreu, depois, um processo longo de incubação e de debate, durante 15 anos. Até que nasceu, por iniciativa de um grupo de amigos do museu, em 1937. Nasceu como um museu municipal dedicado aos usos e costumes locais, como era comum na museologia da época. Ou seja, nasceu como museu etnográfico e não era apenas marítimo. Ao longo das suas mais de sete décadas de existência, o museu foi-se maritimizando naturalmente, definindo essa vocação com clareza nos últimos dez anos. Isto é, a partir de 2001, depois da remodelação e ampliação do actual edifício e da incorporação do navio-museu Santo André como polo museológico, o museu tornou-se num museu marítimo por excelência, que é hoje muito conhecido e reconhecido.
A afirmação e desenvolvimento da unidade museológica tem sido uma constante, em especial após essa requalificação e ampliação…
Sim, sem sombra de dúvida. Nós procurámos estudar a história do museu e, em 2007, publicámos um livro dedicado à própria história do MMI e que tinha por objectivo promover o auto-conhecimento dessa organização riquíssima. Esse estudo permitiu-nos verificar que o MMI teve uma história recheada de dificuldades. A vida dos museus municipais não é uma vida simples, ao contrário do que por vezes se diz. Os projectos têm uma ancoragem local, mas vão mudando qualitativamente. E no caso do MMI temos de assumir que o ciclo mais virtuoso foi após as obras de ampliação, neste período entre 2001 e 2011. Um ciclo que agora se encerra, com a renovação do MMI. A partir daqui, abriremos um novo ciclo.
As obras de ampliação actualmente em curso e a recente abertura do CIEMar permitirão prosseguir com o crescimento do museu?
Sem dúvida. O MMI, neste momento, navega contra a corrente nacional e está com muita evidência a cumprir uma série de projectos de crescimento e mais qualificação. Os principais são o Centro de Investigação e Empreendedorismo do Mar (CIEMar), uma sub-unidade do museu que foi inaugurada a 31 de Março e que está a trabalhar para sedimentar o projecto museológico em termos de investigação, documentação e criatividade empreendedora.
Por outro lado, o MMI terá a partir de 21 de Outubro de 2012 uma novidade muito grande que não deixará de ter impacto positivo ao nível da dinâmica de público e que é precisamente a inauguração de um aquário de bacalhaus. Trata-se de uma estrutura inovadora, muito invulgar mesmo à escala internacional – há uma em North Sidney, na Nova Escócia, e há um outro na Noruega. É uma particularidade que enriquecerá o museu, antes de mais do ponto de vista patrimonial.
Acrescenta ao MMI um património natural, biológico, permitindo explorar patrimónios do ponto de vista científico, pedagógico, articulando melhor as várias dimensões patrimoniais do museu.
Mas é também uma estrutura que vai obrigar também a um reforço de pessoal e esforços na sua manutenção. Isso já está acautelado?
Sim. Com a abertura do aquário de bacalhaus, e com a dinâmica que já está implementada no CIEMar, o MMI cresce, ganha uma dimensão maior, mas coloca a si próprio exigências, ao nível dos recursos humanos e a nível organizacional. E essa ponderação está já a ser feita ao nível do Executivo municipal e da Direcção do MMI, de modo a que o museu passe por esta transição beneficiando o projecto cultural e não se transformando apenas numa estrutura de serviços e de entretenimento.
Tal como disse, o MMI está em contra corrente. Numa altura em que assistimos a tantos projectos e investimentos a pararem no país, como foi possível avançar com estas obras?
Estes projectos são anteriores à conjuntura actual, embora ela já tivesse indícios muito fortes, quase evidentes. Foi possível avançar com estes investimentos por ousadia política do Executivo municipal, ou seja, por ambição de dotar o MMI de uma dimensão maior e, sobretudo, diferente e singular. Por conseguinte, estas questões começam sempre pela imaginação, passam pela iniciativa política e, necessariamente, pela mobilização de financiamentos e de recursos. E foi isso que aconteceu.
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