Manuel Teles prepara-se para recriar a presença da Rádio Faneca, no centro de Ílhavo, no episódio final do projeto de Regeneração do Centro Histórico de Ílhavo em atividades entre 5 e 8 de Julho. Ouvido no programa “Conversas”, numa emissão que pode ser ouvida às 19h00, a voz da rádio que anima o jardim Henriqueta Maia diz que hoje os tempos são diferentes mas que é importante manter vivas algumas tradições.

“É necessário que estas gerações mais novas tenham a noção do que se fazia e como se fazia no antigamente. Hoje, uma situação destas, não seria exequível porque hoje passamos em Ílhavo, passamos em Aveiro e não vemos ninguém ao fim de semana. Parecem cidades desertas. A própria Costa Nova, nós vamos lá à noite e aquilo que se fazia em Ílhavo nas tardes de domingo fazia-se diariamente na Costa Nova e aquela zona da avenida, entre a gelataria e o final da esplanada, na verdade um aglomerado de pessoas a passear ali, a fazer picadeiro”.

Sobre o projeto de regeneração urbana, admite que provocou fortes impactos devido às obras. Ainda assim faz balanço positivo entre a importância de manter tradições e elementos próprios da modernidade.

“Se o funcionamento está bem ou mal planeado, não me arrisco a dar palpites. Está uma confusão andar em Ílhavo e para quem, como nós, não conhecer os becos e as vielas, perde-se por lá. Mas acho que, no final, e já temos a amostra das partes que já estão reparadas e prontas, fica bonito depois de limpo e arrumado. Acho que fica uma obra bonita. As calçadas não são como eram antigamente, mas antigamente também não havia a drenagem das águas pluviais nem os saneamentos. Fazia-se tudo a céu aberto nas chamadas valetas. Mas acho que ficará bem. Não podemos viver sempre a pensar no passado”.

Manuel Teles admite o espírito crítico como marca dos ilhavenses e reflete que, atualmente, as pessoas falam e criticam muito, mas na hora de ajudar nunca há disponibilidade.

“Há uma coisa que me faz azia que é o criticar por criticar, a má-língua. Nós estamos numa terra, honra seja feita, em que se critica muito o que está mal. Mas quando toca a fazer ou a ajudar faltam voluntários. Dizem que não têm jeito ou há falta de tempo. Há uns tempos conheci um padre, felizmente ainda está vivo, que quando lhe diziam que não tinham tempo ele respondia que era mesmo desses que precisava. Porque aqueles que dizem que não tempo para nada, que estão muito ocupados, nunca dizem que não. Eu tenho sido um desses. Sempre que estou disponível, a não ser que esteja fora das minhas aptidões, não consigo dizer que não. Costumo dizer que no meu dicionário não há a palavra não, no bom sentido claro. Portanto, é uma questão de disponibilidade, e Ílhavo enferma em bocado por isso”.