O nome não é fácil de memorizar - nanocomposito de grafeno-zeolite com níquel - mas pelas implicações prometidas pela Universidade de Aveiro (UA) poderá converter-se num material de uso comum no dia-a-dia das populações mundiais. A instituição universitária anunciou ontem a descoberta de um “material revolucionário para armazenar hidrogénio”. “É com este novo composto”, adianta a UA, “que um grupo de investigadores de Aveiro quer revolucionar o mundo dos transportes, extinguindo a necessidade do consumo de petróleo ao substitui-lo por hidrogénio”.
“Carros movidos a hidrogénio” são “um futuro que a UA traz para o presente” graças ao nanocomposito de grafeno-zeolite com níquel, anuncia a escola aveirense, revelando que o material foi “desenvolvido pela primeira vez” no Centro de Tecnologia Mecânica e Automação do Departamento de Engenharia Mecânica.
“Se até hoje nenhum material provou ser suficientemente seguro, leve e barato para poder armazenar hidrogénio nos veículos, tornando esta fonte de energia limpa e inesgotável acessível a todos os condutores, o nanocomposito de grafeno-zeolite com níquel tem passado com distinção essas barreiras”, refere a instituição de ensino superior em comunicado.
A coordenadora da investigação, Elby Titus, explica que o hidrogénio é “altamente explosivo” e que o seu armazenamento a bordo de um veículo tem encontrado enormes obstáculos” devido ao volume que o depósito tem de possuir para garantir ao motor uma boa autonomia “de uma forma segura”.
A cientista indiana (ver perfil) lembra que as actuais botijas de armazenamento de hidrogénio, feitas à base de hidratos metálicos, são muito pesadas e têm de ser substituídas por materiais leves para poderem substituir os depósitos de combustíveis fósseis. “O peso e o volume que teriam de ter os tanques de hidratos metálicos para dar resposta às necessidades de autonomia de um veículo movido a hidrogénio seriam incomportáveis”, afirma.
Energia limpa
O material recém-descoberto permite um maior armazenamento de hidrogénio e, por isso, um desempenho melhor dos veículos. “A vantagem deste compósito é que absorve as moléculas de hidrogénio. Pode, por isso, ser colocado num reservatório onde, em contacto com o hidrogénio, o absorve e o integra da sua estrutura molecular, libertando-o posteriormente conforme as necessidades do veículo”, explica.
“O grafeno não é mais do que uma única camada de grafite que consegue aguentar tensões elevadas e que de forma natural tem tendência a empilhar-se por camadas. Ao introduzirmos o zeolite, conseguimos separar as camadas e alterná-las entre este material”, desvenda a cientista da UA.
E é no meio do grafeno e do zeolite que é possível armazenar moléculas de hidrogénio. Já o níquel facilita a difusão do hidrogénio em radicais de hidrogénio. Este metal tem como função fazer a separação molecular do hidrogénio de forma a espalhá-lo facilmente entre a camada de grafeno e a de zeolite.
“O hidrogénio é uma energia limpa que tem de ser utilizada pelo sector dos transportes para que possamos viver num mundo com menos poluição”, diz Elby Titus. Acrescentando: “Encontrar uma forma segura e barata de armazenar hidrogénio é, portanto, um dos grandes desafios da ciência”.
O projecto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, termina em 2013. Até lá, a cientista espera poder “dar o melhor à humanidade e à natureza”.
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