Alberto Souto, anterior presidente da Câmara, congratulou-se com a mobilização da população local contra a construção da ponte pedonal no Canal Central. “Quando as questões são graves os ovos não são moles”, declarou o ex-autarca socialista.
“Não me recordo de uma mobilização assim para uma reunião de Câmara”, afirmou, aludindo à participação de cerca de 200 populares na sessão pública do executivo municipal da semana passada, que “o presidente Élio Maia não devia menosprezar”.
As pessoas presentes na reunião camarária “são apenas uma ínfima parte dos que estão contra” a obra, que são “a maioria esmagadora dos aveirenses”.
“Dos relatos que me chegaram, registei três vozes a favor: dois comissários políticos e uma senhora cujo sonho de infância era ir do Alboi ao Rossio sem atravessar as Pontes por serem perigosas. Convenhamos que é pouco para se fazer uma enormidade destas”, afirmou.
Alberto Souto não encontra “razões objectivas” para a construção da travessia e considera “risível” o argumento de que a ponte não pode nascer mais à frente, de acordo com o Plano Urbanístico do Polis de Aveiro, “porque o passeio só tem um metro”. “Então não seria feito um arranjo urbanístico adequado? Só mesmo muita incompetência ou muita manipulação podem explicar uma frase destas sem que o seu autor se ria”, sustenta.
O antigo líder do município insiste que “a ponte tem de ser travada” por ser “um projecto absurdo, inútil e feio”. E exorta as vereadoras do CDS - Maria da Luz Nolasco e Teresa Rebocho Cristo - a aliarem-se aos representantes socialistas e a Ana Vitória Neves (eleita pela coligação PSD/CDS mas entretanto proscrita) para chumbarem o projecto.
“Ana Vitória Neves já se declarou contra. Basta então convencermos Maria da Luz Nolasco ou Teresa Rebocho Cristo. Acredito que terão bom senso e que saberão ser sensíveis. Basta que uma destas vereadoras vote também contra a ponte para que Aveiro obtenha uma enorme vitória cívica”, declara.
Outra alternativa, acrescenta, é ser desencadeado um “procedimento cautelar ou qualquer outro meio jurídico ainda disponível” para impedir o arranque da intervenção.
“Até Veneza
se invoca”
Alberto Souto contesta, por outro lado, a opinião recentemente expressa pelo vice-presidente da edilidade a favor da travessia. “As pontes foram polémicas em muitas cidades. Até em Veneza”, disse Carlos Santos na semana passada. “Na falta de argumentos até Veneza se invoca”, responde o socialista, acusando o autarca da coligação PSD/CDS de “deturpação”. Carlos Santos refere que os socialistas foram os “verdadeiros campeões da construção de pontes” uma vez que “entre 1997 e 2005 foram construídas, lançadas ou planeadas” nove travessias, três das quais “não têm altura suficiente, obrigando os moliceiros a cortar a proa”. Alberto Souto salienta, porém, que “não houve qualquer polémica” com essas nove pontes e que as três invocadas pelo social-democrata “foram niveladas pela altura da Ponte-Praça”. “Se os moliceiros não passam na Ponte-Praça não vale a pena subir as outras que estão a jusante. Ou será que também vão subir a Ponte-Praça?”, ironiza, reagindo à promessa de Carlos Santos de “levantar” aquelas estruturas.
O antigo eleito do PS sublinha também que “não é verdade que a ponte tenha sido escrutinada” e lembra que a travessia prevista pelo Polis “era no Canal das Pirâmides”. Carlos Santos afirmou na semana passada que o actual executivo “foi acusado de não cumprir o Plano de Urbanização do Polis”. “Trata-se de uma falsidade”, garantiu.
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