O quarto “Aveiro à Conversa”, realizado no passado dia dois de Fevereiro, debateu as questões da dinâmica sedimentar interna na Ria de Aveiro. O tema desta conferência resultou da sugestão e expectativa demonstradas pelos participantes em anteriores sessões do “Aveiro à Conversa”. Este quarto debate teve como orador José Figueiredo da Silva, docente e investigador no Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, que apresentou, perante uma audiência de 45 aveirenses, os resultados de cerca de duas décadas de investigação científica em plena zona lagunar, principalmente na região de Aveiro, Estarreja, Murtosa e Ovar. A Ria de Aveiro constitui um sistema estuarino-lagunar de águas pouco profundas que comunica com o Oceano Atlântico através do canal fixado artificialmente na Praia da Barra. Desde 1648, primeira referência conhecida às marinhas e às “terras de pão”, a Ria de Aveiro tem sofrido alterações no seu ecossistema, umas provocadas pela intervenção direta do homem, outras pela própria natureza. O transporte e a deposição de sedimentos neste sistema estuarino são fundamentalmente controlados pela circulação de água, determinada pela interação entre as descargas fluviais e os fluxos de água do mar. Quanto a estes últimos, face ao aumento do caudal de água na Ria, face ao aumento sucessivo do prisma das marés (amplitude/quantidade de água em cada fluxo que tem vindo a crescer exponencialmente), a erosão no interior do sistema hidrográfico da Ria de Aveiro tem sido elevado, nomeadamente ao nível da erosão das marinhas, ilhas e lamaçais, o aumento da salinidade e da turvação as águas e o quase completo desaparecimento de fauna marítima que foi, durante décadas, a subsistência económica da região com a apanha do moliço e do junco, a par da extração do Sal. O que tem sido comprovado com o aumento do volume de água no sistema hidrográfico da Ria é o alagamento de zonas sólidas, como as marinhas, a erosão, o transporte para a foz de sedimentos (não travados pela ausência do moliço) e um maior volume de água. Para o docente e investigador da Universidade de Aveiro “para se atingir uma boa qualidade do ecossistema da Ria de Abeiro é necessária a remoção do lodo, a criação de motas de proteção do sapal, das marinhas e das ilhas, o aumento do tempo de retenção da água doce fluente, e a recuperação das praias de moliço e junco”. Por outro lado, no seguimento das várias questões colocadas e pela troca de experiências e testemunhos com a audiência bastante participativa, José Figueiredo traçou a perspetiva para o futuro que, face ao aumento da secção dos canais e da amplitude das marés, deve repensar a Ria quanto à sua utilização e potencialidades. Perdem-se no tempo os recursos agrícolas (pastagens, moliço e salgado) e “deve-se olhar com especial atenção para o lamaçal e sapal baixo que potencia os viveiros, a pesca e o lazer, bem como para a utilização das cales, dos esteiros e dos canais, com maior volume de água, promovendo a navegação, o turismo, as atividades lúdicas e ambientais. O quinto ciclo do “Aveiro à Conversa” tem data prevista para o próximo dia 22 de Março, quinta-feira e contará como orador Carlos Borrego, ex-Ministro do Ambiente, diretor do departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro e diretor do Instituo de Ambiente e Desenvolvimento – IDAD. Esta “Aveiro à Conversa” terá como temática o Ambiente a Saúde Pública. O projeto “Aveiro à Conversa”, da responsabilidade da Mesa da Assembleia Municipal de Aveiro, tem como objetivo dar a conhecer e divulgar junto dos cidadãos aveirenses trabalhos científicos e académicos desenvolvidos na Universidade de Aveiro, fomentando a aproximação entre esta prestigiada instituição universitária e a sociedade aveirense. O ciclo de conferências “Aveiro à Conversa” promoverá e divulgará, publicamente, projetos e resultados da investigação realizada na instituição universitária aveirense, relacionados com temas regionais e com impacto sobre aspetos diversificados da vida económica, cultural e social de Aveiro e da sua região. Para o Presidente da Assembleia Municipal de Aveiro, Miguel Capão Filipe, este projeto “pretende valorizar atividades paralelas a ocorrer no edifício sede do Parlamento de Aveiro numa clara postura cívica que promova Aveiro, o seu povo, o seu talento e empreendedorismo, e das suas Instituições de que é caso relevante a Universidade de Aveiro, que a todos orgulha”. Diário de Aveiro |