Um estudo de investigadores da Universidade de Aveiro, recentemente publicado na Revista Portuguesa de Pneumologia, que identifica fatores de risco associados às doenças respiratórias nas crianças, revela um aumento preocupante da prevalência de rinite alérgica e sibilância em relação a trabalhos anteriores. Os investigadores do Laboratório Associado CESAM efetuaram um estudo epidemiológico baseado no questionário padronizado ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood) em 14 escolas primárias de Lisboa durante o ano letivo de 2008-2009.
Os dados apresentados neste estudo - “Risk factors and prevalence of asthma and rhinitis among primary school children in Lisbon” (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2173511511700264) - que identifica fatores de risco e aponta medidas mitigadoras mostram a necessidade de implementação de programas de prevenção e planos de ação direcionados tanto para a correção de comportamentos e atitudes, como para o controlo ambiental dos fatores de risco.
Ao nível dos comportamentos, apontam-se: a alimentação, os hábitos de higiene pessoal e do local habitado e ainda a ventilação natural. Quanto ao controlo ambiental dos fatores de risco, o estudo refere-se a características dos materiais utilizados na construção dos edifícios, mobiliário, componentes presentes nos produtos de limpeza, poluentes encontrados no ar interior e exterior de escolas, residências, hospitais e meios de transporte.
A investigadora Célia Alves refere, a título de exemplo, um alergénio encontrado num dos produtos de limpeza usado numa das duas escolas do 1º ciclo estudadas para uma tese de doutoramento da Universidade de Aveiro. Um outro caso de fator de risco, acrescenta, é o formaldeído, presente em escolas novas com mobiliário recente que está associado a uma maior frequência de crises respiratórias nas crianças. Para prevenir este tipo de situações, Célia Alves recorda que nos países nórdicos – onde as crianças passam mais tempo no interior dos edifícios e, por isso, as autoridades despertaram há mais tempo para o problema – existem normas muito estritas para uso de materiais nas escolas e são feitos testes ao mobiliário, em câmaras especiais, para medição de emissões.
Desta forma, este estudo mostra a premência da educação para a saúde respiratória e o desenvolvimento de programas de saúde ocupacional que incluam a monitorização regular da qualidade do ar interior. Entre as evidências do estudo feito em Lisboa, mas que não constam do artigo publicado, estão os níveis “preocupantes” de dióxido de carbono detetados em espaços mais fechados das escolas, sublinha a investigadora Célia Alves, que podem originar sonolência, dor de cabeça e défice de atenção nas crianças, e ainda a concentração de microrganismos totais por metro cúbico de ar – em algumas escolas mais antigas foram detetadas concentrações superiores a 40 mil, quando o limite legal estabelecido para Portugal é de 500 unidades.
Os fatores de risco, no entanto, não se restringem ao interior. Foi detetada, assinala ainda a investigadora do CESAM, uma forte correlação entre uma maior incidência de rinite alérgica, asma e sibilância e a proximidade a vias de intenso tráfego.
Na sequência deste estudo publicado na Revista Portuguesa de Pneumologia e usando a mesma metodologia, desenrola-se um outro no âmbito do projeto Europeu SINPHONIE (Schools Indoor Pollution and Health: Observatory Network in Europe) que envolve as áreas da saúde, ambiente, transporte e alterações climáticas e que tem por objetivo aumentar a qualidade do ar nas escolas e jardins de infância.
Este projeto, de âmbito europeu, envolve ainda a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e o Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. A nível europeu, estão envolvidas 38 instituições de 25 países. Os parceiros pretendem implementar com sucesso uma das prioridades do plano de ação Europeu para o Ambiente e Saúde das crianças que consiste na prevenção e redução das doenças respiratórias devido à poluição no interior e exterior dos edifícios. Atualmente estão a decorrer amostragens nas escolas de Aveiro e do Porto, de forma a completar o estudo iniciado que deverá terminar em outubro de 2012.
Texto: UADiário de Aveiro |