A completar 30 anos de existência, o grupo “O Baluarte”, de Amoreira da Gândara, é um caso único de perseverança e vontade de levar a cultura a todos os cantos do concelho e da região. O sucesso deve-se à forma de estar e de trabalhar, mas também ao facto de, ao longo de três décadas, ter sabido envolver a população da freguesia no “espírito” do Baluarte. Por isso, o balanço da intensa actividade não poderia ser mais positivo, já que o propósito que esteve na génese da sua criação foi plenamente alcançado: a animação da vida social, cultural e cívica da população da freguesia de Amoreira da Gândara.
Um lamento. Albano Jorge é, presentemente, uma figura indissociável do grupo. Este engenheiro químico, praticamente ligado ao grupo desde a primeira hora, é um dos seus principais responsáveis. O gosto pela arte, sobretudo pelo teatro, acompanha-o desde os tempos de Universidade, quando frequentou o Instituto Industrial do Porto, na década de 60. De lá para cá, o teatro é uma das suas grandes paixões e o Baluarte a forma de chegar ao público, às plateias.
Presentemente, sente que a maior dificuldade para este tipo de grupos é a inexistência, no concelho, de um programa de trabalho que permita uma maior dinâmica e intercâmbio entre grupos. Se houvesse um programa, mas calendarizado pela tutela – Câmara Municipal de Anadia – seria muito mais enriquecedor”, garante. Por isso, considera determinante que o poder local ajude a estimular, incentivar a dinâmica e os intercâmbios, sem que os grupos tenham de andar a mendigar um local onde actuar.
Envolver a população. Integralmente amador, o grupo Baluarte é composto por 51 elementos, desde a infância à terceira idade.
“É um feito de todos nós, pois conseguimos manter, numa freguesia tão pequena e durante tanto tempo, um grupo com uma variedade etária, cultural e de mentalidade tão grande”, reconhece Albano Jorge.
Hoje, diz, “o grupo está de pedra e cal e, graças ao trabalho realizado e ao legado deixado pelas “velhas guardas”, a geração que, hoje, está na liderança do grupo será capaz de continuar o projecto por muitos e bons anos”. Um feito notável, numa freguesia eminentemente rural e pobre, mas onde a união, o entusiasmo e a envolvência da população com o grupo é um caso raro de sucesso e dinamismo.
Projectos diferenciados. Contudo, Albano Jorge reconhece que os tempos mudam, que as transformações sociais e culturais não se compadecem com o conservadorismo. Há que saber responder a essa mudança natural, adaptando o trabalho aos tempos actuais. “Temos sabido aliar a inovação com a tradição e atrair assim os mais novos, mas mantendo os mais velhos também imbuídos deste espírito”, acrescenta. Daí, que o grupo se divida em três sub-grupos distintos: 15 elementos integram as designadas “velhas guardas” que elegeram a revista à portuguesa, o tom mais popular e brejeiro como forma de fazer passar a mensagem. Depois, 13 elementos, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos, usam um estilo mais complexo e contemporâneo. Quem não recorda as peças “A Oeste nada de novo”, 2000; “Dog”, 2003; “Zé do Telhado”, 2007 ou “Pai tirano”, 2009, representadas brilhantemente por este grupo… Mas são as crianças que estão na origem de tudo. Foi para elas que “O Baluarte” nasceu, em 1980. E é através delas que todos os anos (por altura do Natal) mais crianças são “recrutadas” para o grupo.
Como nasceu o grupo. Tudo começou com uma festa de Natal realizada há 30 anos. “De lá para cá, todos os anos, novas crianças entram para os ensaios da Festa de Natal que realizamos sempre na tarde do dia 25 de Dezembro”, diz. Neste momento, 23 crianças dão forma ao Coral dos Baluartitos. Pela primeira vez, em 30 anos, estão em actividade permanente desde a última Festa de Natal. Ensaiam semanalmente, aos sábados e, na opinião de Albano Jorge, formam “um coral muito bom e agradável de ouvir”. E é através desta mobilização das crianças da freguesia e dos lugares vizinhos que sabiamente o grupo vai estabelecendo maior ligação com as famílias, com a população local, mobilizando todos em torno do seu projecto.
30 anos de sucesso. A viver o 30.º aniversário, em Setembro último começaram os projectos para a comemoração de tão significativa data. Em preparação está uma nova peça, “Voando sobre Nadas”, que Albano Jorge considera um enorme desafio aos mais novos, que vão levar a palco a obra de Ken Kesey, adaptada ao cinema por Milos Forman, mas também em curso com os mais velhos está mais uma edição, desta feita a 5.ª, dos Encontros Imediatos.
A sessão solene de aniversário terá lugar no dia 5 de Dezembro, com a presença de diversas entidades, bem como do Grupo Coral dos Baluartitos. O ano termina com a tradicional e obrigatória Festa de Natal, na tarde de 25 de Dezembro, com comemoração de mais um aniversário.
Catarina Cerca
Diário de Aveiro |