Paulo Penedos negou o seu envolvimento nas alegadas movimentações de Armando Vara e Lopes Barreira para destituir a administração da REFER. A empresa liderada por Luis Pardal tinha proibido o grupo de Manuel Godinho de ganhar contratos e não receber o que tinha feito. O antigo assessor jurídico da PT, que começou ontem à tarde a ser interrogado no tribunal de Aveiro pelo juiz presidente no âmbito do processo de corrupção Face Oculta, onde foi pronunciado por tráfico de influências, seria, à altura dos factos da acusação, também advogado do empresário de Ovar, entre outros clientes. Contou ter sido contratado para encontrar “novas oportunidades” de negócios em vários sectores, ouvindo logo o alegado cabecilha da “rede tentacular” suspeito de trocar subornos por favorecimentos queixar-se de concorrentes seus terem “melhor imagem” junto das principais empresas. O juiz presidente quis saber se a REFER era um dos casos onde existam “dificuldades”. Numa escuta, o empresário das sucatas, “aflito com falta de trabalho, aborda com o advogado alegadas divergências entre o presidente da empresa e o primeiro-ministro José Sócrates. “A alternativa era pô-lo na rua”; diz Manuel Godinho referindo-se Luis Pardal, uma espécie e ódio de estimação. “Isso era bom”, responde Paulo Penedos. Questionado se tinha conhecimento de “movimentações” para afastar o homem forte da empresa pública, disse estar a par de “diligências” de pessoas “amigas” de Manuel Godinho “para atenuar uma relação péssima”, alegamente criada depois do empresário não ter assumido “responsabilidades” da administração anterior e ser “perseguido”. O empresário não “abria muito o jogo”, mas Paulo Penedos admitiu o apoio do arguido Lopes Barreira, “pela relação que tinha” com Mário Lino e a sua secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino. Numa escuta de 10 de Março de 2009, o advogado dá conta ao dono da O2, entre outras empresas, que vai almoçar nesse dia com o chefe de gabinete do ex-ministro das Obras Públicas e Transportes. Pede ´luz verde´ para abordar as divergências com a REFER. Ao questionar “se vale a pena falar alguma coisa”, recebe resposta negativa do interlocutor, porque “o nosso amigo telefonou para ele”. Então, afinal quem seria esse “amigo” comum. Admitiu, novamente, que Manuel Godinho estivesse a contar “com a boa vontade” de Lopes Barreira nas tais “diligências” pacificadoras. “Poderia ser”, sem certeza absoluta. Antes dissera não ter relacionamento “pessoal ou político” com Armando Vara, tendo apenas mantido um encontro em reunião de Assembleia Geral do BCP. Sobre as alegadas informações privilegiadas da REN, através do pai, negou “em absoluto sob palavra de honra”, chegando a dizer que estariam disponíveis, pelo site da empresa. Paulo Penedos, que falou durante três horas, não relacionou o pedido para colaborar com Manuel Godinho pelo facto de ser filho, à altura, do presidente da eléctrica. “Dizer-se na acusação que não exercia a actividade de advogado é ofensivo”, desabafou. As suas intervenções seriam “muitas vezes de aconselhamento”, enquandrando certas expectativas mais explícitas nas escutas de resolver pretensões em contratos como “uma forma de tranquilizar” os seus clientes, a quem ia dando a conhecer “a marcha” dos processos. Para além da avença mensal (aponta para 6500 euros), Manuel Godinho aceitará sucessivos pedidos de empréstimos a Paulo Penedos (mais de 1 milhão de euros) quando este se vê confrontado com dificuldades para cobrar honrários (1,3 milhões de euros) e tem gastos, nomeadamente numa casa. Mesmo desagradado, o empresário não o dispensa dos alegados serviços que prestava. O juiz presidente questionou “a falta de transparência”, como se fosse “um mal” menor para garantir a ligação à REN.”Nunca associou a minha actividade profissional às dificuldades financeiras”, garantiu Paulo Penedos. Fonte: NA Diário de Aveiro |