DUNA A SUL DO LABREGO NÃO RESISTE AO MAR SEM PEDRA.

Duna artificial erguida, de emergência, a sul do esporão da praia do Labrego, teve vida efémera devido ao temporal que assolou aquela zona do litoral costeiro.

As vagas da maré baixa desfizeram o cordão dunar reconstruído com as areias arrastadas, por três vezes, desde sábado, quando o mar inundou os campos mais próximos, rompeu a estrada e ligou-se ao canal de Mira, da Ria de Aveiro. O cenário repetiu-se na noite de quarta-feira e manhã de quinta-feira, causando mais estragos que alargaram o rombo no acesso viário próximo, ainda cortado ao trânsito. Prosseguiram, ainda assim, os trabalhos de reposição da defesa, que devem continuar por três semanas. “Temos de contrariar, e estamos a conseguir, a abertura de uma ligação irreversível do mar à ria”, garantiu o presidente do Instituto Nacional da Água (INAG), Orlando Borges, minimizando eventuais rupturas e passagens de água por estes dias.

O presidente da município de Vagos, Rui Cruz, insistiu, para a necessidade de um reforço da defesa também com colocação de pedra e sacos de areia de grandes dimensões, solução advogada por especialistas como Veloso Gomes. Por três vezes em menos de uma semana, o dique arenoso cedeu à força das marés vivas, conjugadas pelo forte vento de sudoeste e chuvas intensas, como rompeu em 2001 um pouco mais a sul.

Cristina Bernarbes, investigadora de Geociências da Universidade de Aveiro (UA), estudiosa do fenómeno da erosão costeira, não estranhou os danos causados pelo mar em Vagos por ser “uma zona de elevado risco, com acentuado recuo da linha de costa e diminuição das praias”. E só “não é mais catastrófico, porque não te, habitações, mas perde-se património natural”, lamentou.

A falta de sedimentos que circulam nas correntes do litoral é a causa apontada “e a pouca que circula fica mais a Norte” retida nos sucessivos molhes e esporões. Nas zonas a sul das praias do Poço do Cruz e e do Areão e a Norte de Mira o panorama “é bastante grave”, alerta.

“Não sei se é solução continuar a artificializar a costa, impõe-se uma acção concertada de gestão do litoral que convém rever”, recomendou Cristina Bernardes. Como “não há soluções mágicas, o problema vai-se arrastar e porventura agudizar-se” devido a algumas obras, nomeadamente o prolongamento dos molhes do Porto de Aveiro que aguarda luz verde da autoridade ambiental. “Convinha muita gente pensar e com várias valências, porque atingimos um ponto crítico”, avisou. Como “a subida do mar já era esperada há muito tempo”, a investigadora lamenta “a incapacidade” de adaptar o litoral. “Fizemos o contrário do que seria recomendável”, lamentou.

A Ministra do Ambiente, Assunção Cristas, é esperada sexta-feira, na região, devendo visitar as obras de emergência em Vagos e Mira, neste caso junto ao Bairro Norte, a com requalificação e reforço de um cordão dunar recorrendo a 4500 sacos de areia.

Fonte NA


Diário de Aveiro


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