Uma revista de fim-de-semana, cuja publicação coincidiu com o Dia do Trabalhador, convidou várias personalidades ligadas ao ensino superior, para darem o seu conselho a quem deseja vir a ter uma carreira de sucesso. O primeiro conselho, e por ele me fico, é dado por uma senhora, a Doutora Filomena Gaspar, Directora da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa. Resume-se em poucas palavras e diz que para ter sucesso é preciso “desenvolver o sentido de serviço e ajuda ao outro”. Um conselho que, acolhendo-se e seguindo não dá dinheiro, nem intervém, numericamente, nos valores de um diploma de final de curso. Porém, pode dar qualidade e consistência a uma vida pessoal e profissional e a todos os saberes adquiridos na Escola e fora dela. O sentido de serviço e a ajuda aos outros dão verdadeira dimensão moral à pessoa e abrem caminhos certos a uma vida responsável e útil, que é a única que, com verdade, se pode dizer com sucesso. Nem sempre o sucesso se traduz em dinheiro em prestígio. De afirmar-se a importância de outros conselhos dados, como o propósito de ser ousado e empreendedor, manter a capacidade de aprender e de pensar, exercer diariamente uma cidadania activa, adquirir e cultivar uma experiência internacional, ligar-se a instituições de referência… Mas tudo isto deve ter cabide que o sustente para que o tempo o não corroa. A disponibilidade para servir e a solidariedade gratuita e fraterna para com todos são o pulmão verde de uma sociedade onde dá gosto viver. O individualismo e o egoísmo, males corrosivos de grande teor e alcance, empobrecem a sociedade. Nunca terão lugar em vidas voltadas para os outros e que orientam nesse sentido as suas capacidades, o seu tempo, a sua vida familiar e a sua profissão, os seus projectos diários, quaisquer que eles sejam. Vamos deparando na história com pessoas que nela vão se encontram com lugar merecido e estimulante. Na peugada de Jesus Cristo, que “passou fazendo o bem”, aí estão também, os santos ao lado de figuras da sociedade que, por opção de vida, fizeram dos outros o seu caminho diário. E recordamos alguns dos que estão mais próximos de nós pelo sangue, pela fé, pelo tempo em que viveram e que podem estimular o nosso agir de todos os dias: S. João de Deus, Padre Américo, Teresa de Calcutá, Ozanan, Gandhi, Luther King. Mandela… Foi o serviço aos outros, até ao extremo, a paixão das suas vidas. E se pudermos contar todos os anónimos que, numa vida de gestos discretos, trilham igual caminho, teremos consciência dos muitos que deixam traços de vida nos caminhos do tempo, ao lado daqueles que focaram exclusivamente para si próprios os passos da sua vida e até se aproveitaram dos outros quando diziam servi-los. Também a história vai dizendo que não passam de “flores que murcham e de erva que seca”. Nos últimos dias, jornais e revistas falaram muito da geração “morangos com açúcar” e dos sonhos nascidos dessa afeição passageira, que apaixonaram e continuam a movimentar muita gente nova. É difícil ver frutos de vida, que talvez haja alguns, mas multiplicam-se os casos de frustrações, de amores falsificados, de casamentos sem consistência, de sonhos que redundaram em pesadelos. A comunicação social que gosta do cor-de-rosa e as forças interessadas que a comandam e exigem audiências e vendas multiplicam os mitos, deturpam o modelo do herói, estímulo que os novos não dispensam. Foi-se passando das modas e das roupas de marca, que ainda persistem à ligeireza dos comportamentos, à satisfação fácil dos gostos e das emoções. É evidente que a quem procura ganhos económicos a qualquer preço, não interessam modelos de vida que estimulem os caminhos que enobrecem. Vidas com sucesso exigem o sentido de serviço para que não se desvirtuem, e o apoio aos outros para que cada dia sintam a alegria de partilhar e de fazer comunhão. Diário de Aveiro |