Realizou-se no domingo na Gafanha da Nazaré o Cortejo dos Reis, de tradição secular. Desta feita, com ares de renovação, que os tempos são outros. Mais exigentes, sob o ponto de vista artístico. Ainda bem, para não se sentir qualquer tipo de desânimo. Em jeito de agradecimento pela participação de tanta gente, o nosso Prior, Padre Francisco Melo, valorizou o espírito de renovação, sentido na forma como os autos foram representados, mas também no modo como alguns “quadros” foram cuidadosamente preparados. Tudo, referiu, "para que esta tradição se mantenha; tradição que é de alegria, de cor, de festa, de encontro, mas também de liberdade, porque não houve inscrições nem foi preciso pagar para as pessoas participarem; hoje todos fomos Reis, porque viemos ao encontro do Deus-Menino com as nossas ofertas". A chefe Custódia e 80 escuteiros do agrupamento 588 do CNE trabalharam o tema “Mulheres da Seca e Pescadores da década de 40 do século passado". Apresentaram-se a rigor, porque consideraram importante divulgar imagens que tendem a diluir-se. As chefes e as escuteiras mostraram as mulheres da seca; os chefes e os escuteiros exibiram os pescadores. "Eu acho que foi muito bom apostar-se na renovação do Cortejo dos Reis e, como São Pedro ajudou, houve muita participação e muitas prendas para o Menino", garantiu-nos. O Manuel Alberto participa nesta festa há 50 anos. E disse: "é com paixão que vivo estes momentos". Sabe todos os papéis dos autos de cor e nos ensaios chama sempre a atenção para a necessidade de "estarem atentos, porque pode ser preciso substituir algum que falte por doença ou outro motivo". Recordou que um dia recebeu os Reis Magos da varanda da casa da D. Conceição Vilarinho, atual residência da D. Ester Morais, anexa à igreja matriz. Foi uma maneira de ultrapassar uma dificuldade surgida pela morte de Manuel Fidalgo Filipe (o Perrana). Os papéis desapareceram e tivemos de improvisar com a ajuda do Padre Domingos. Depois tudo se resolveu. O Manuel Alberto explicou que, quando aparece alguém com vontade de viver esta experiência, ensina-lhe o que tem a dizer, "exigindo o melhor, porque nem todos nascem para actores". E garantiu: "quando um dia eu não puder, não falta quem possa substituir-me". A Ascensão Rocha estava num grupo da Marinha Velha que apresentou uma cena dos Moinhos do Tio Conde (pai e filho). Houve alguma investigação para se apurar o possível da realidade. Fizeram sacas para o milho e para a farinha, que "as meninas levavam à cabeça", e até fizeram umas quadras para ensinar algumas tradições. Lembrou que os lavradores levavam o milho e outros cereais ao moinho, trazendo em troca a farinha, descontando em peso o correspondente ao trabalho do moleiro. Quando não havia vento, não havia farinha. Então deixavam o cereal e procuravam a farinha mais tarde. Quem não tivesse cereais podia comprar a farinha. Ainda ouvi histórias da boroa, mas isso fica para outro dia. Assisti ao auto “Palácio de Herodes”, onde o rei sanguinário recebeu os Reis Magos. Bem ensaiados, trajes cuidados, som muito bom. E como sempre a simpatia do povo da nossa terra. Depois foi a cerimónia do “Beijar o Menino”, com Reis Magos, com as suas ofertas (ouro, incenso e mirra), pastores e o povo. Os cânticos bonitos que passam de geração em geração. E, se não me engano, o Rei Herodes andava por ali disfarçado.
O leilão das ofertas foi durante a tarde. Reportagem do Professor Fernando Martins em www.pela-positiva.blogspot.com Diário de Aveiro |