É minha convicção, em si e pelas sua consequências, de que as páginas mais negras e negativas da história de Portugal, já escritas e que continuam a escrever-se no tempo que corre, se traduzem na legislação orientada para o ataque, senão mesmo para a destruição programada, da instituição familiar.
O último passo dado neste sentido, já estava previsto e mostrava-se irreversível. A não promulgação da lei votada no Parlamento e depois nas mãos do Presidente da República, juridicamente nada adiantava. Mas seria isso suficiente? O grito veemente e o veto do Supremo Magistrado da nação, quaisquer que fossem as consequências, ao afirmar o valor da instituição familiar, não dava o facto por consumado e acordaria a consciência de muitos cidadãos. A crise moral de um povo leva à subversão de todos os valores consistentes e é a mais grave das crises. É ela que está em causa. Mais grave que a crise económica, embora esta seja real e a condicionar a vida de muita gente
O não veto deu azo a que se verbalizassem, em tom de vitória e mais uma vez, as razões de quem proclama que a lei uma “vitória civilizacional” e põe Portugal na “vanguarda da igualdade”.
O país pode assim tomar consciência de quem o governa e quem influencia o legislador maioritário com arranjos que nada têm a ver com o país real.
O pluralismo parlamentar não é espaço vazio que permite leis coloridas de interesse partidário. Nem é espaço destinado à emergência de outros interesses, alheios ao bem comum. A verdadeira liberdade é criadora de vida e de soluções válidas para situações diferentes. Não é promotora de caos onde deve haver vida. Países atentos e com história encontraram soluções, sem agredir a família. Aqui se viu a cultura de muitos deputados.
À revelia de tudo o que se pode legitimamente classificar de humanização e de bem comum, as minorias classificadas e as esquerdas partidárias, divididas e atacando-se mutuamente dentro e fora do Parlamento, estão sempre unidas e disponíveis para a defesa dos interesses ideológicos e das situações que as afectam. O país, através de gente previamente escolhida para o efeito e com assento parlamentar garantido, passou a andar a reboque em situações e assuntos muitos sérios, que são do interesse de todos ou, pelo menos, de uma verdadeira maioria dos portugueses. Esses que não abdicam do bom senso, do reconhecimento das raízes históricas, do seu património cultural, do sustentáculo da sua vida e garantia do seu futuro. Gente animada pela voz do sangue, quando a sanha destruidora da família não a conseguiu ainda calar, é gente que nunca se calará, nem deixará de se indignar, até poder dizer: “Basta!” Somos um país de raízes e sentimentos cristãos, não de ontem, mas de há séculos. Não somos apátridas. Somos cidadãos portugueses. Se outros lêem a história de outro, nem por isso são donos do país.
É ante este conluio, já indisfarçado, que surgem as afirmações antagónicos, que não são simples opiniões divergentes, sempre legítimas num espaço democrático, mas denunciam um mundo diferente de valores e de apreço pela instituição familiar. Opiniões, por isso mesmo, inconciliáveis. A democracia não cria valores. Respeita-os.
A família é património cultural e histórico do país. Neste sentido se pode considerar um padrão civilizacional de muitas gerações. A Igreja não está nesta batalha por razões religiosas. Está por razões humanitárias, pela defesa dos valores e das pessoas.
Assistimos, de há tempos, a leis loucas sobre a facilitação do divórcio; à desconsideração pelo valor da vida e à liberalização prática do direito de abortar ou seja de matar inocentes; à desvalorização do papel dos pais, em aspectos fundamentais da opção educativa; à promulgação de leis fiscais que oneram quem persiste em viver uma vida de família a sério; à sórdida poluição pornográfica que enche impunemente, páginas de jornais “respeitáveis”; à minimização dos laços conjugais e parentais com medidas avulsas ; por fim e por agora, já com outras loucuras à espreita, à proclamação pública e legal de que “família” é o que cada um quiser.
Quem acompanha o evoluir actual da vida nacional vê que o caminho de alguns é para o apagamento da história e da dignidade de um povo que soube humanizar e se está agora desumanizando. A crise económica desviou o olhar de muita gente da liberdade de pensar, opinar e respeitar, para o fixar no peso diário de quase só sobreviver.
Avanço civilizacional? Não se vê. Retrocesso? Esse, sim, aí está e só os cidadãos distraídos lhe passam ao lado. Continua a dizer-se que “o povo é quem mais ordena”. Que povo? A ditadura amordaçou-o. Os democratas de circo apagam-no.
António Marcelino Diário de Aveiro |